header top bar

Edivan Rodrigues

section content

Crônica para Lineto

29/07/2011 às 22h26

Despediu-e da vida sem avisar a ninguém. Cirurgião dentista, formado em 1944, morreu sem condições de protestar contra o tratamento recebido nos seus últimos instantes, sábado, dia 16, no Hospital Regional de Cajazeiras. Morreu quase sozinho. Tal qual viveu no Rio, em Recife, em Cajazeiras. Gostava de isolar-se. Da janela do casarão espiava o tempo fluir. Sua conversa era que nem passarinho bicando fruta, uma frase, uma reticência, o riso acanhado. Andava com incrível facilidade para os seus mais de 90 anos. O ouvido, porém, não ajudava em nada. E haja grito!

Lineto era meu primo, aliás, o último pelo lado paterno. Pelo nome, Lindolfo Pires Ferreira, nem de longe seria meu primo. O caçula do casamento de minha tia Cartuxinha (Crisantina Cartaxo Pires) com o major Galdino Pires Ferreira. Portanto, Lineto e eu somos netos do major Higino Gonçalves Sobreira Rolim e Ana Antônio do Couto Cartaxo (Mãe Nanzinha), casados em cerimônia oficiada pelo padre Inácio de Sousa Rolim, no sítio Prensa, em 26 de setembro de 1886.

O major Galdino veio de Sousa muito jovem. E aqui se deu bem no comércio, nos negócios do algodão, desde a lavoura ao fabrico de pluma, óleo, torta e sabão. Galdino e Cartuxinha tiveram 6 filhos: 3 homens e 3 mulheres. Waldemar, Higino, Graciete, Diva, Maria Antonieta e Lindolfo. Todos registrados com o sobrenome do major: Pires Ferreira. Nem mesmo Gineto, (o do Estádio Higino Pires Ferreira), que herdou o nome do avô, foi exceção. O contrário, porém, fez seu cunhado, Cristiano Cartaxo, ao dar ao sexto filho, o nome Higino Rolim Neto, hoje com 82 anos.

Por que tio Galdino fez isso? Perguntei diversas vezes ao meu pai. “Mania de Galdino”, a resposta do velho poeta me chegava sem emoção, bancando o distraído, ausente, quem sabe, em respeito à harmonia familiar que sempre existiu entre nós e nossos primos. E ao apego que ligava Cristiano à única irmã, Cartuxinha. Tanto apego que ele morreu em 29 de agosto de 1975 e veio buscá-la 20 horas depois!

E Lineto não casou por quê? “Porque não deixaram”. Ouvi de minha mãe esta frase mais de uma vez. “Bem que ele quis, até se enamorou de uma moça simples”… (Assim mesmo, nesta expressão saída de romance do século 19). Um diálogo de silêncios entre minha mãe e eu, numa época em que minhas idéias das coisas e das gentes eram ainda muito anuviadas. Hoje, acredito que ele não casou por timidez. Timidez de cutucar a mulher por quem se enamorou, de enfrentar circunstâncias adversas, caçula no meio da árvore frondosa de Galdino Pires e Cia, a poderosa empresa, dos meados do século 20. Tão poderosa que, usando artimanhas engendradas pelo Major e seu genro, Severino Cordeiro, lutou com sucesso contra os “trustes internacionais” Anderson Clayton e SANBRA.

PS- Dia 29, viajo à Alemanha em visita a minha filha Débora.
 


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

Recomendado pelo Google: