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Edivan Rodrigues

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Desafio de Ricardo Coutinho

01/12/2010 às 09h52

 O grande desafio de Ricardo Coutinho a partir de janeiro é continuar quebrando paradigmas. Isso mesmo. Sua eleição, por em si só, já representou a quebra de importante paradigma na política paraibana. Ricardo não integra nenhuma das oligarquias que dividem o poder político no Estado, desde sempre. É verdade que só lhe foi possível tal façanha graças à aliança com os Cunha Lima e os herdeiros de Inácio Bento, vertentes de tradicionais oligárquicas sub-regionais, protagonistas ou coadjuvantes de nossa história republicana.

Os 14 governadores eleitos (ou nomeados no tempo da ditadura militar) ao longo de 63 anos, de 1947 e 2010, pertenciam a famílias políticas. Todos, menos Ricardo. Talvez Tarcísio de Miranda Butiry guarde algum traço semelhante a Ricardo, aliás, muito leve, tão leve que se pode desprezar, até porque a primeira eleição de Burity se processou num colégio eleitoral biônico, fiel ao modelo criado pelo regime ditatorial para reproduzir-se. Portanto, descartável como exceção precursora. E mais, o próprio Tarcísio é um rebento longínquo da elite entrelaçada no poder, por intermédio de dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, prelado de forte influência na igreja católica em mais de 40 anos de arcebispado. Aqui e além fronteira.

Outro paradigma desfeito é de ordem partidária. Ao ingressar no PSB, em 2003, Ricardo passou a chefiar um partido de pouca expressão local e nacionalmente, embora exiba uma singular história que remonta à esquerda democrática, formada na euforia da redemocratização após a segunda guerra mundial. Desde então, nenhum outro político filiado a pequeno partido logrou ser eleito governador na Paraíba. Ricardo quebrou também esse paradigma.

Um terceiro aspecto inusitado de sua ascensão diz respeito a sua condição de pessoense, aliás, bem explorada na campanha eleitoral. Isso tem tudo a ver com sua trajetória de homem público, a começar pelas fortes vinculações que construiu com a cidade onde nasceu, com os movimentos sociais de diversos matizes que lhe deram sustentação e, sobretudo, consistência de atuação, primeiro, nas lutas parlamentares de vereador e deputado e, depois, como prefeito de João Pessoa.

Nesta função, Ricardo acumulou seu maior capital político: sua afirmação como gestor público. A chefia do executivo da capital lhe deu prestígio e visibilidade, ainda que restrita, mercê da pouca integração geográfica dos meios de comunicação social na Paraíba, em particular da tevê, com as áreas mais distantes do Cariri, Curimatau e Sertão submetidas ao impacto alienante das antenas parabólicas.

Esses três pontos desaguaram num quarto paradigma: o inusitado da aliança com Cássio Cunha Lima e Efraim Moraes, expressões políticas de relevo vinculadas às oligarquias e a dois grandes partidos políticos nacionais. O desafio de Ricardo prossegue, agora, em outra dimensão, a de governar a Paraíba de forma coerente com sua trajetória política e ajustada ao que espera dele o PSB que, em 2003, lhe acolheu pelas mãos experientes do então presidente nacional, o saudoso Miguel Arraes de Alencar.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

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