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Renato Abrantes

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Do que Adianta Chover???

18/03/2009 às 00h00

19 de março. Dia de São José. O sertanejo olha para o céu e espera as benesses divinas que, concomitantemente às leis naturais das quadras invernosas para o período, não se deixam vencer nunca em bondade. Contudo…

– De que adianta chover, se não podemos recolher água em nossos reservatórios? É vergonhoso o que está acontecendo desde há muito tempo na parede do Açude de Engenheiro Ávidos; o problema não é de ontem, nem de anteontem. O que esperam as autoridades? Uma tragédia de proporções grandiosas? Em Cajazeiras, no DNOCS, no Poder Judiciário não há "homem" (gente de fibra, pra bater o martelo, exigir providências concretas e menos "bafo de boca" e evitar a tragédia)? Sequer imaginamos o poder de 275 milhões de metros cúbicos de água arrastando com toda violência o que estiver pela frente e ceifando milhares de vidas nas cidades atingidas pela tromba d’água de um possível arrombamento na parede de Boqueirão. Quem será responsabilizado? Certamente, se isto acontecer, ninguém, e os que morrerem [Deus nos livre disto] morrerão (des)graças à incompetência de homens engravatados que, neste momento, estarão bem distantes da tragédia, pois, infelizmente, já sabemos como as coisas funcionam…;

– De que adianta chover, se as nossas estradas carroçáveis se transformam, literalmente, numa pista de enduro? Onde está a estrada de São José da Lagoa Tapada? Quem responde por Marizópolis-São João do Rio do Peixe? E as ruas e avenidas de nossa Cajazeiras? O asfalto do “Projeto Cura” já acabou há muito tempo, a dívida ainda subsistirá até 2014 e as crateras nele e nos outras malhas asfálticas não foram eliminadas. A “entrada” da cidade, de quem chega do Ceará, está uma lástima e cheira mais a queijo suíço do que o portal daquela que “ensinou a Paraíba a ler”… ah, como me envergonho, chegando a Cajazeiras, com colegas cearenses…;

– De que adianta chover, se aqueles que deveriam estar no campo estão na cidade, superlotando as periferias, à espera de uma viciante esmola travestida de “programas sociais”? Nossos sítios, outrora cheios de rapazes e moças alegres e trabalhadores, que estudavam e trabalhavam, hoje estão vazios, sem ninguém e sem o barulho gostoso do “povo e da natureza alegres”; nossas cidades, com seus bolsões de miséria, barulhentas também, mas com os estampidos das armas de fogo e os gritos de desespero dos que são vitimados pela violência galopante;

– De que adianta chover, se no cenário político geral, só vemos a patifaria, a desonestidade e a ganância pelo bem próprio, não pelo bem comum, que faz com que os senhores e as senhoras, elegantemente vestidos e com discursos de fazer inveja a Rui Barbosa, mas se assemelham a urubus na carniça, brigando entre si por cargos e nomeações de apadrinhados? Estes, sem nenhuma ou quase nenhuma técnica para ocupar cargos ou funções de confiança, logo se preocupam com o contracheque no final do mês e com as diárias irremediavelmente pagas em dia, enquanto que o simples trabalhador, o modesto operário tenha que sofrer o efeito de ações persecutórias, pelo fato de não ter votado nos “atuais donos da bola”; democracia no Brasil? Onde, favor mostrar-me, pois estou à procura dela;

– Do que adianta chover, se nós, enxergando tudo isso, decidimos cruzar os braços e não tomar um posicionamento cidadão? A culpa também é nossa, pois somos coniventes com o nosso silêncio, vendo o mundo apodrecer cada vez mais. Não sabemos, porém, que, quando o mundo apodrece, nós apodrecemos com ele.

Do que adianta chover???

Renato Abrantes

Renato Abrantes

Advogado (OAB/CE 27.159) Procurador Institucional da Faculdade Católica Rainha do Sertão (Quixadá/CE)

Contato: [email protected]

Renato Abrantes

Renato Abrantes

Advogado (OAB/CE 27.159) Procurador Institucional da Faculdade Católica Rainha do Sertão (Quixadá/CE)

Contato: [email protected]

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