Dom Quixote e a Sã Loucura
Sou professor de História e Ensino Religioso do Município de Cajazeiras. E nesta última quinta feira em uma das escolas na qual Leciono, refiro-me à Escola José Antonio Dias que fica em Engenheiro Ávidos, no tão conhecido Boqueirão. Aconteceu-me algo epifânico. Aproximei-me de uma pequena biblioteca que existe naquela escola e me pus a olhar cada livro (Titulo do Livro, nome do autor e editora).
Em certo momento em meio a tantos livros, um chamou a minha atenção e instigou a minha curiosidade, por dois motivos. Primeiro é que sou fascinado por leitura, quando encontro um bom texto, um bom artigo ou um bom livro, não descanso enquanto não chego ao seu fim. A cada leitura faço a mesma experiência do filósofo Voltaire, quando afirmou que a leitura engrandece a alma. Ou até mesmo como disse Descartes: “A leitura de todos os bons livros é uma conversação com as mais honestas pessoas dos séculos passados.”
Dom Quixote, este foi o magnífico livro que naquela tarde nublada, com cheiro de chuva,encantaram-me os olhos. Saímos da Escola naquela tarde ás 16:30, com saímos todos os dias. Mas aquela tarde iria tornar-se especial. Saí da escola com o livro de Quixote nas mãos, entrei no ônibus com o livro nas mãos, sentei em um dos bancos do mesmo ônibus com o livro nas mãos, abri o livro, pus meus olhos e me encantei.
Durante todo o percurso da viagem fui, página por página, letra por letra, parágrafo por parágrafo, sendo envolvido pela historia de Dom Quixote de La Mancha, um nobre homem, tipo forte, porem muito magro, com o rosto fino e que nos momentos de ócio se dedicada à leitura sobre aventuras de Cavalaria. E que num certo dia resolve tornar-se um Cavaleiro de Verdade. Seria ele um homem desastrado que, viciado em romances de cavalaria, confunde moinhos de vento com gigantes a quem não hesita em enfrentar ou seria ele um idealista, crente de que o sonho vale a pena? Não posso dizer, voce precisaria ler para descobrir e tirar suas conclusões.
Dom Quixote é um livro de cavalaria, mas também é um livro de entretenimento.Quixote tem como fortes características a bondade e a nobreza, mas o idealismo do cavaleiro esbarra na fronteira da loucura, já que nm cavaleiro ele é. Na verdade, ele é um nobre decadente, que resolver fazer justiça com a antiga lança do seu bisavô.
Chegando em casa naquela tarde, joguei a bolsa em cima da cama e sentei-me no chão do quarto, continuando minha aventura cavalheiresca junto com Dom Quixote.
Todos os acontecimentos em que Dom Quixote se envolve têm um lado real e outro imaginário, sendo o engano a base das ações do cavaleiro, que confunde – uma de suas aventuras clássica – moinhos de vento com gigantes, monges beneditinos com feiticeiros diabólicos, rebanhos de carneiros com exércitos inimigos.
Dom Quixote é um mito. Um símbolo para os nossos dias. Um símbolo para aqueles que acreditam que os sonhos são possíveis e mesmo quando não os são, mesmo assim é importante sonhar, é fundamental buscar a generosidade, a justiça, a nobreza, a solidariedade, o amor e a felicidade. Valores estes, que o grande Cavaleiro da Triste Figura anda em seu encauso, montado no seu Rocinante (nome do seu cavalo de batalha).
Os verdadeiros ideais “quixotescos” não se apagaram com o tempo e vivem reaparecendo, em cada canto do mundo, com uma força e intensidade inesperadas. Quem sabe nós conhecemos muitos “quixotes” por aí. Conheço vários.
Posso dizer com toda certeza, que a leitura da obra de Miguel de Cervantes – Dom Quixote – é uma fantástica injeção de ânimo àqueles que acreditam no sonho de que o mundo pode ser melhor á medida que somos melhores; Que o mundo é possível ser um lugar de esperança e solidariedade, quando nós somos homens e mulheres solidários e esperançosos. Mesmo quando temos que enfrentar os nossos “Moinhos de Ventos”.
Para saber mais
"Não sei direito com que idade eu estava, mas era bem pequena. Mal tinha altura bastante para poder apoiar o queixo em cima da escrivaninha de meu pai. Diante dele sentado escrevendo, eu vinha pelo outro lado, levantava os braços até a altura dos ombros, pousava as mãos uma por cima da outra no tampo da mesa, erguia de leve o pescoço e apoiava a cabeça sobre elas. A idéia era ficar embevecida, contemplando de frente o trabalho paterno. Bem apaixonadinha por ele, como já explicava Freud, mas eu só descobriria anos depois.
Só que no meio do caminho tinha outra coisa. Bem diante dos meus olhos, na beirada da mesa. Uma pequena escultura de bronze, esverdeada e pesada, numa base de pedra preta e lustrosa. Dois cavalos. Mais exatamente, um cavalo esquelético, seguido por um burrico roliço. Montado no primeiro, e ainda mais magrelo, um risonho cavaleiro de barbicha segurava uma lança numa mão e um escudo na outra. Escarrapachado no jumento, um gorducho risonho, de braço estendido para o alto, erguia o chapéu como quem dá vivas.”
Um dia, perguntei quem era.
— O da frente se chama Dom Quixote. O outro, Sancho Pança.
— Quem são eles?
— Ih, é uma história comprida…Um dia eu conto.
(….)
Levantou-se, foi até a estante, pegou um livro grandalhão, sentou-se numa poltrona e me mostrou. Lá estavam várias figuras dos dois em preto-e-branco.
— Outra hora eu conto, agora vá brincar."
(MACHADO, Ana Maria. Como e por que ler os clássicos universais desde cedo.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. p. 1 e 2)
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