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Edivan Rodrigues

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E Clarice Levou a Culpa

27/05/2008 às 18h26

Santa Luzia é município pequeno, mas com notável visibilidade política. Quase sempre, manteve representação na Assembléia da Paraíba. Hoje tem dois Bento no Congresso Nacional, Efraim Morais, pai e Filho; um senador, o outro, deputado federal, herdeiros de Inácio Bento de Morais, ex-combatente na 2ª Guerra, chefe político no seridó paraibano, divisa com o Rio Grande do Norte. Com apenas 11 mil dos 2,5 milhões de eleitores do Estado, Santa Luzia é, portanto, uma terra abusada.

No passado, dividia-se, entre UDN e PSD. Com a reforma partidária do regime militar, em 1966, os da UDN foram para a ARENA, braço político do governo, e os do PSD migraram para o MDB, levados por Ruy Carneiro, a pedido de Castelo Branco para viabilizar o bi-partidarismo de fachada. O golpe de 1964 encontrou Inácio Bento na prefeitura e o fortaleceu mais ainda, sendo, depois deputado estadual de largo prestígio em várias legislaturas.

Dito assim, até parece que o poderio dos Morais (aliás, dos Bento) era absoluto. Engano. Havia oposição aguerrida. Em 1972, por exemplo, no auge da repressão do governo Médici, uma plêiade de jovens oxigenou a política local ao lançar o economista Miguel Romualdo de Medeiros candidato a prefeito. A campanha foi uma festa, a rapaziada empolgada com a pregação renovadora, até então jamais registrada na história do vale do Sabugi. Não tanto quanto em Cajazeiras, onde, naquele mesmo ano, o jovem advogado Bosco Barreto insurgiu-se contra a oligarquia com o grito demagógico “meus irmãos e minhas irmãzinhas, também”, após impedir na Justiça, sob alegação de inelegibilidade, a candidatura do empresário Higino Pires Ferreira, considerada imbatível.

Miguel não promoveu as gigantescas mobilizações populares como as de Cajazeiras, porém, Santa Luzia presenciou animadas passeatas, às quais não faltava sequer a presença de Clarice. Clarice? Exato. Quem sabe, para imprimir o selo da mudança, sendo ela conhecida na região porque cuidava das meninas de saias curtas coladas ao corpo, lábios vermelhos, generosos decotes, peritas em distribuir porções de amor proibido, em madrugadas cheias de mistérios e veneno!

A presença de Clarice em comícios e passeatas, todavia, arrepiava as famílias tradicionais de Santa Luzia. E daí? O resultado da eleição confirmou a força da oligarquia, mais uma vez, com a vitória de Euclides Ribeiro com 60% dos votos. Euclides fora chefe do velho PSD, mas se bandeou para a ARENA levando um caminhão de banana, porque, dizia, “não nasci para sacudir banana em lajedo”. Frase que virou metáfora dos adesistas de todos os tempos… A ressaca eleitoral oposicionista, no entanto, enriqueceu o folclore político sertanejo, com estes versos musicados pelo engenheiro-poeta Paulo Tadeu para consolar Miguel:

“Miguel, deixa de tolice, você perdeu por causa de Clarice”.

Pobre Clarice! Desiludida, não mais empunhou a bandeira da mudança no pleito seguinte quando o primo de Miguel Romualdo, (hoje, aposentado do BNDES), Antônio Ivo de Medeiros (MDB) venceu com 54% dos votos, quase devolvendo, em 1976, o placar da eleição anterior. Antônio Ivo não cumpriu o mandato até o fim. Foi deputado estadual e, hoje, ocupa de novo a prefeitura após sinuosa trajetória política. Mas isso é outra história.

Autor do livro “Do bico de pena à urna eletrônica”.

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

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