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Edivan Rodrigues

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Eleições, água e energia

28/07/2008 às 00h19

Miguel Arraes, três vezes governador de Pernambuco, costumava dizer que se o trabalhador rural tivesse acesso à água e energia, ele se libertaria. Água e energia eram vistas pelo extraordinário homem público como instrumento de libertação das amarras políticas que prendiam os pobres aos interesses dos potentados. No passado, a política tinha como fundamento a cadeia de sujeição que ia da exploração da mão-de-obra familiar, no interior do latifúndio, ao voto de cabresto despejado nas urnas para fortalecer o poderio do coronel e seus aliados. Aliados que se situavam abaixo e acima dele, formando a teia do poder político que se fez sistema dominante na maior parte do tempo histórico brasileiro.

Esse sistema esgarçou-se, mas ainda hoje está presente em várias regiões, sob novo formato, adaptado a novos modelos. Aquilo que doutor Arraes defendia era fruto de sua visão do mundo. Por isso, sua gestão à frente do governo pernambucano foi marcada por firmes ações dirigidas para levar energia elétrica e água às comunidades rurais. A história credita a ele um justo troféu nesses dois campos. Apesar de todas as dificuldades que enfrentou em seu último governo (1995-98), mercê do tratamento recebido da dupla Fernando Henrique/Marco Maciel, o governo Arraes executou intenso programa de eletrificação rural que, mais tarde, inspirou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a estendê-lo para o Brasil com o nome de Luz Para Todos. Quanto à água, a ação de Miguel Arraes foi obsessiva a ponto de ser taxado de forma pejorativa por um ex-aliado, hoje senador da República, como o “estadista de cacimba”, numa alusão a sua preocupação permanente em dotar de cisternas, cacimbas, aguadas e poços as moradas da zona rural para matar a sede dos mais pobres.

Esse tipo de ação governamental não foi suficiente para assegurar-lhe o quarto mandato. Em 1998, Arraes sofreu sua única grande derrota nas urnas, motivada pelo isolamento que lhe impôs, talvez, a maior aliança política formada em Pernambuco. A semente plantada, no entanto, ajudou, e muito, oito anos depois, a vitória de seu neto Eduardo Campos.

Em Cajazeiras, vi muitas cisternas quando visitei comunidades rurais junto com os candidatos Léo Abreu, Carlos Rafael, Chagas Amaro e cabo Enéas. Vi também, os benefícios da energia elétrica nos sítios. O controle sobre esses dois bens, água e energia, não é suficiente para dar ao homem do campo sua libertação política, porque ainda persistem outros obstáculos fortes, herança de nossa formação histórica. Mas água e energia funcionam como pré-requisitos para que se tenham eleições livres de verdade. Como pregava Miguel Arraes, os olhos brilhando de alegria e certeza.

Autor do livro “Política nos Currais”. [email protected]

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

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