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Francisco Cartaxo

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Enchentes gaúchas e secas no Nordeste

17/05/2024 às 18h59

Coluna de Francisco Frassales Cartaxo - Foto enchentes - divulgação/Prefeitura de Porto Alegre-RS/Foto da seca do Nordeste - divulgação/Agência Brasil

Por Francisco Frassales Cartaxo – A catástrofe causada por brusca concentração de chuvas no Rio Grande do Sul mobiliza a população e o Estado. Imagens transmitidas ao vivo causam forte impacto. O socorro imediato exibe cenas emocionantes de solidariedade e amor ao próximo. Nossa mente grava esta frase repetida à exaustão: maior tragédia natural do Brasil.

A tragédia gaúcha é a maior do Brasil?

Vejamos. Se a causa é natural – excesso de chuvas concentradas -, o tamanho do estrago tem menos a ver com a natureza do que com a ação do homem. O desastre se liga muito mais às consequências da falta de planejamento, de nossas atitudes, do descaso recorrente do poder público e de atores preocupados com o imediatismo eleitoral. Mais grave em Porto Alegre, em vista do trágico precedente de 1941.

Difunde-se a ideia da imensidão do desastre climático no calor da visão de cenas chocantes de perdas humanas e animais. Essa realidade, mostrada na mídia tradicional e em redes sociais, cega as pessoas, prejudicando a compreensão correta do problema. Por isso, me atraiu a entrevista, em 10 de maio, do historiador, Manuel Domingos, à Tutaméia. O professor espicha seu olhar pela história do Brasil para lembrar que a seca de 1877 foi a maior tragédia brasileira. Na verdade, a grande seca dos três sete, (1877, 1878 e 1879), alcançou o semiárido, do hoje chamado Nordeste, quando não havia conhecimento científico nem preparo e sequer estradas para socorrer as vítimas.

Os dois fenômenos – no extremo Sul e no Nordeste – têm causas naturais distintas, características e consequências sociais de tragédia humana. No final do século XIX o mundo era outro. Na seca de 1877, homens e bichos morriam de sede, fome e doenças. Levas de migrantes percorriam estreitos caminhos, a pé ou em animais, à procura de água e comida. Os mortos eram deixados na beira das veredas. O sertanejo buscava na Paraíba as terras úmidas do Brejo, no Ceará, fugiam para Fortaleza, que tinha 30.000 habitantes e chegou a abrigar mais de 100.000!

E o socorro do poder imperial?

Alimentos e água vinham de navios e levados em lombo de animais. Muitos retirantes ficavam no caminho. Ainda não havia ferrovias. Faleceram 500.000 criaturas, estimadas em 5% da população da época, hoje equivaleriam a cinco milhões! Nem falo de outra desgraça: o desmanche da família, núcleo da sociedade brasileira, tragada por conjunções carnais, induzidas ou forçadas. Meio de sobrevivência, gerador de tragédias criminais e morais, tão bem narradas em romances, estudos históricos e sociológicos.

Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

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