Entre um Silêncio e Outro
Percorro estradas, traduzindo os momentos que me acontecem. Vejo pedras, nuvens, sonhos, pessoas, vidas que no percusso do tempo, passam e se eternizam. Então percebo que o silencio está aqui, entre cada olhar que descansa de tantas coisas vistas e revistas, em cada olhar que investiga e me instiga a sempre procurar, perguntar e buscar.
Encontro em mim aquele silencio que inquieta, questiona, aconselha-me, acalenta-me , silencio que é transigente, um silêncio que me [trans]fere e [inter]fere no modo como qual existo; é um silencio existencial , incisivo. Entre um silencio e Outro nasce a palavra cálida, lúcida, translúcida; nasce a palavra itinerante, colocada , deslocada mas precisa. Entre um silencio e Outro nasce a palavra facial, mutifacial a palavra querida e coloquial, a palavra sisuda, mas maternal. Palavra que nasce no miocárdio e transnasce na intimidade da alma, tabernáculo do Sagrado.
Entre um silencio e Outro, nascem as palavras que satisfazem, que fazem satisfeitos aquele que nem sempre são; nascem as palavras que inquietam os “quietos” de coração e torna brasa os que hoje buscam e não encontram, nascem as palavras que sublimam e transmudam tudo o que era velho em novo, mas novo mas por ser outro, mas o mesmo velho, agora com novo significado, nova epifania e novo sentido.
Sentido que sempre tem quando e necessariamente jamais lhes é tirado; Sentido que sempre tem quando a palavra num momento deixa de ser palavra e se transubstancia em Verbo, e se é Verbo de Deus, melhor tanto quanto Deus é… Palavra, Fala, Poesia, versos. Versos incandescentes, que reluzem uma luz bem – dita, versos apaixonantes que transfiguram-se num homem que se reclina na Cruz, Versos de palavras de amor , palavras de poder , palavras de poder que se faz melodia e palavras de amor que se faz canção. Versos, palavras, amor, canção, tudo na sincronia do tempo, da forma do sentido.
Sentidos verticais, que liga terra e céu,Sentido de palavra mediadora que religa Humano e Divino, palavras que se tornam eternas ao mesmo tempo em que são redentoras, Palavras que entre um silencio e Outro ajudam a prosseguir. Palavras que entre um silencio e Outro ajudam a calar, a falar… A calar… A falar… A calar…
Pois, palavras geradas entre um silêncio e outro, não são apenas palavras, mas fogo que queima, brasa que fumega no intimo de nós. Palavras geradas e amadurecidas entre um silencio e outro tornam-se palavra viva , eficaz e penetrantes em mim, no Outro e no mundo.
Entre um silêncio e outro nasce a capacidade de indignar-me com o já pronto e acabado. Indignar-me com as correntes e mordaças colocadas no Homem, mesmo quando vierem mascarados de favores afetivos ou sociais.
Em um silêncio e outro eu sou mais eu.
Para saber mais
GRUN, Anselm. As exigências do Silêncio.5ª ed. Vozes, 2008
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