Epitácio Leite Rolim
A agonia de Epitácio acabou na batalha contra o câncer. Na verdade, ele já vinha sofrendo agonias de outros tipos. Por exemplo, as punições decorrentes de sua passagem pela prefeitura de Cajazeiras, muito embora sem ter sido um gestor desonesto. Não era. Mal assessorado, talvez. Ninguém o acusara de enriquecimento ilícito. Ao contrário, dizem até que se desfez de patrimônio para saldar dívidas, nesta época em que muitos amealham sobras de campanha. Por isso, seu infortúnio se tornara mais amargo ainda, penso, ao ver ao seu redor tantos sinais exteriores de riqueza exibidos por gente que deveria estar na cadeia. E não está.
Epitácio Leite Rolim teve, entre os cajazeirenses, a vida política mais longa no século XX, só comparado ao coronel Sabino Rolim, que dirigiu anos a fio a política local até a Revolução de 1930. A trajetória de Epitácio me chamou a atenção quando preparava, em 2006, o livro Do bico de pena à urna eletrônica. Tanto que arrisquei apontar ali as possíveis causas de sua longevidade política, como se pode ler nas páginas 176-178, a seguir transcritas:
“Arraigado à terra, prestando serviços diários à população no exercício da profissão e mediante a manipulação de cargos públicos em dois municípios, Epitácio, ao selar aliança com Edme Tavares, expandiu e aprofundou a sustentação eleitoral. A esse respeito, o papel desempenhado por Edme foi essencial. Mais relevante do ponto de vista político-eleitoral do que a forte articulação que Epitácio mantinha, até então, com Wilson Braga, desde que este alçara vôo para Brasília, sempre com expressivas votações no oeste paraibano.”
“A aliança com Edme, no entanto, fez-se mais duradoura e eficaz e se processava de modo que cumpriam missões peculiares, em sintonia com a personalidade e inclinação de cada um.”
“Afeito às articulações palacianas, desde quando no governo João Agripino ocupou a subchefia da Casa Civil, seu primeiro cargo público relevante, Tavares se movimentava com desenvoltura nos gabinetes de autoridades estaduais e federais, descobrindo e assegurando benefícios que a máquina pública propicia, em termos de captação de recursos para obras e serviços públicos, de posições e empregos para correligionários e aliados políticos de suas bases eleitorais. Dessa forma, Tavares supria uma de suas salientes deficiências: ausência de contato direto com as massas.”
“Epitácio o socorria, preenchendo esse vazio. Sempre próximo ao eleitor, até por fastio das lides parlamentares, dos ares da capital, Epitácio cumpria o papel de segurar os votos de que Edme necessitava para representar Cajazeiras na Assembléia Legislativa (três mandatos sucessivos) e na Câmara dos Deputados (dois mandatos seguidos), durante 20 anos sem interrupção de 1971 a 1990”. (…) “Cajazeiras, dificilmente, encontrará dupla tão eficaz na prática do assistencialismo, na manipulação dos instrumentos do poder público para manter clientela, num exemplo de patrimonialismo eficiente e duradouro.”
“Essa característica do relacionamento entre os dois lideres (…) constitui um dos fundamentos da longevidade política de Epitácio Leite Rolim, que pode exibir esse troféu, agora que a idade e os reveses sofridos nos últimos anos apontam-lhe o caminho da aposentadoria política.”
Ao reler agora esse trecho do capítulo 7- Nova Face do Populismo (1964-1982), escrito quatro anos atrás, não arrenego a análise. Lamentável, porém, são os cruéis e injustos “reveses sofridos” por Epitácio nos derradeiros anos de sua vida. Cajazeiras inteira sabe disso. E era fácil perceber, como pude constatar em discretos papos no Bar do Pirulito, onde conversamos algumas vezes, em pleno calor da campanha eleitoral de 2008, que levou Leonid Abreu à prefeitura de Cajazeiras.
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