Estudantes / “baixa renda”
Por Damião Fernandes
O evento da Cantora Marilia Mendonça, recentemente acontecido em Cajazeiras, deu o que falar, sobretudo na placa em que designava a área e o seu respectivo preço, conforme imagem no topo deste texto. De forma propositadamente, a organização do evento associa a categoria de “Estudantes” à classe social da “baixa-renda”. Associar categoria social à uma classe social é uma das práticas mais comuns da política neoliberal que estabelece como base de sustentação das suas teses a separação e a divisão de classes.
Resumindo. Para a satisfação do lucro, direitos tem somente aqueles pagam mais e pagam mais sob o valor total. Os estudantes não se enquadram aqui. Os estudantes nesse imbróglio são aqueles que se os promotores de festas e eventos pudessem, não os teriam por perto, pois sua presença significa prejuízo ou baixo lucro. Os estudantes foram agrupados e classificados propositalmente como integrantes da “baixa-renda”, mesmo que divido por um sinal gráfico de uma “barra”, porque não representam a sociedade dos Vips que tem poder aquisitivo para o lazer a qualquer preço. Os estudantes foram agrupados e classificados propositalmente como integrantes da “baixa-renda” porque representam o obstáculo à paz social, sem o incômodo da meninada. Tal associação que fazem aos estudantes é injusta, preconceituosa e imoral.
Essa indução sutil ao uso de uma nomenclatura totalizante “estudante-baixa renda”, não existe. O que existe sim é o termo “Jovem baixa-renda” mesmo que este esteja fora da escola (de acordo com as leis 12.852 e 12.933), que regulam a meia-entrada no Brasil ou seja, não se aplica aos estudantes de baixa renda como deixa supor o cartaz. Estudante é estudante e ponto final. Não importa se ele é filho do pedreiro ou do médico, da faxineira ou do empresário. O termo “baixa renda” como falei no início, não se aplica a categorias sociais mas a sujeitos inseridos num determinado núcleo familiar. Não existe professor “baixa renda”, pedreiro “baixa renda”, vendedor “baixa renda”, atendente “baixa renda”, secretária “baixa renda”, etc. Isso vai depender em que grupo familiar esse indivíduo está inserido.
Portanto, a tentativa de induzir um conceito generalizante para a categoria particular, sobretudo colocando em evidencia a pura e simples diferença econômica, caracteriza preconceito da pior espécie. Isso sugere que há um tipo de preconceito que está pautado na posição social dos indivíduos, conforme seu acesso à renda, poder aquisitivo, padrão de vida e nível de escolaridade. Em outras palavras, no Brasil também existe o chamado preconceito de classe social. O estabelecimento da nomenclatura “Estudantes baixa-renda” é um jeito sutil deste tipo de preconceito. Tal prática, deixa implícita a tentativa de uma “demarcação territorial” por uma determinada classe Vip, desejosa em se manter isolada, longe do que lhe parece inferior.
Então, a partir de tal indução preconceituosa por parte dos organizadores, podemos supor que existem os Estudantes Vips que não possuem o desconforto de se enquadrarem no “baixa-renda”? Em cajazeiras, a elitização ganha também os bancos escolares de forma mais explicita em eventos culturais, onde os estudantes precisam provar que descendem de origem familiar pobre, apresentando além da carteira estudantil – que já lhe dá direito à meia entrada – ele precisa também apresentar a Carteira de Identidade Jovem para que possa provar que este mesmo estudante não faz parte da classe alta, média-alta, média-média, mas que sim da classe mais baixa, a de baixa renda.
Basta um pouco de leitura e coerente interpretação das leis 12.852 e 12.933, que regulamentam a meia-entrada dos Jovens de baixa renda no Brasil, para entender que não é dessa forma que funciona e que muito menos não busca incentivar à promoção de um novo tipo preconceito de classe social contra os estudantes.
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