Família é amor
De uns dias pra cá, o menino demonstra um comportamento agressivo. Fico preocupado e pergunto se aconteceu algo em sua vida nos últimos dias. Ela releva com pesar que seus pais se separaram, passou a noite chorando: “queria papai e mamãe de volta como era antes”. Enxuga o choro na ponta da camisa e volta a brincar de bola.
Peraí, mas este depoimento também sou eu, enxergo nos gestos dele a mesma apreensão que senti quando resolvemos sair de casa. Voltei da escola e as malas estavam prontas, ainda que não materialmente, senti o cheiro do fim no semblante amargurado da minha mãe. Lembro nitidamente dela, minha irmã e eu na primeira na noite que dormimos longe do nosso lar. Deitamos os três numa cama de casal, nossas respirações ofegantes entrecortadas pelos anseios de nossa mãe, cuja necessidade estava em nos dar o melhor.
Eu era um menino. Também não deseja que meus pais rompessem. Sofria, a princípio, por não ter “uma família” igual a dos meus colegas. Mas, por outro lado, possuía o essencial: o afeto da minha mãe, o carinho da minha irmã. Fui educado por estas duas mulheres, símbolos de obstinação e capacidade de se reinventar. E, neste solo, persisti lavando minhas mágoas, desalojando meus ressentimentos. Eu tinha uma base, independente dos moldes pré-estabelecidos e dos olhares de canto de olho. Criei-me na fartura de valores e afagos; três pratos e cotovelos colados, Pai Nosso e “- bênção, mainha” antes de dormir.
A meu ver, família não é projeto a ser votado, pior: concepção formada e dissociadas de abraços. Pais se divorciam, há lares com dois pais, mães que decidem ter seus filhos sozinhas. Minha história traduz a realidade de muitas brasileiras que, assim como minha mãe, não se intimidaram nem se amordaçaram ante um envolvimento infértil e destrutivo. Para final de conversa, compreendi pelo sentimento que família é amor.
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