Férias em Porto de Galinhas
Escrevo de Porto de Galinhas, a praia pernambucana preferida, sobretudo, por quem não está nem aí para os preços, tal o nível de exploração aplicado aos que trocam euro ou dólar. Ou aos paulistas. Paulistas? Sim, abestado, da Bahia pra baixo é tudo paulista, como diria Tiririca, eles não sabem dá um nó em punho da rede.
Os efeitos da transformação da outrora bucólica praia em um dos mais badalados pólos turísticos do Brasil estão em toda parte. Em particular, na maneira original como se formam os preços cobrados… Ontem, por exemplo, abancamos (alguns paulistas entre nós) numa barraca à beira mar, próximo à casa onde estamos hospedados, a 3 km da sede do distrito de Porto de Galinhas. O primeiro encanto foi o peixe fresco. À inevitável pergunta: gente boa, tem o quê pra comer, o garçom, depois de breve marketing, retorna com o menu exposto numa bandeja: três variedades de peixe, camarão e outros enfeites. Tudo se mexendo, feito rede de pescador…
Peixe escolhido, preço negociado, o resto o leitor pode imaginar, cerveja, cioba, agulhinha, refrigerante, macaxeira frita. Mais cerveja e peixe e macaxeira e batatinha e camarão, mais cerveja… o garçom solicito, cada vez mais solicito, e por aí fomos nós na curtição do mar, do papo miolo de pote, sempre animados… Até a hora da perversa.
Corta essa, irmão, pensa que eu sou paulista? Falou Marcelo, meu filho, que surfa por essas bandas desde os 12 anos… tendo sido até campeão nordestino, nos tempos de adolescente. O garçom tirou o corpo de banda: Veja bem, aí não é comigo, agora é lá com dona Beatriz. Dona Beatriz cozinha, anota o pedido, ordena as prioridades, faz as contas, recebe a grana, passa o troco. Enfim, faz tudo. Marcelo, afeito às manhas negociais, (é do ramo de confecções, marca Mentor), derrubou dona Beatriz logo de saída.
Comadre Bia, preste atenção na minha voz, eu tenho sotaque de gringo? Cerveja de 5 reais, dona Bia?
A voz de Marcelo não abalou a tranqüilidade da proprietária. A gente se acerta, meu filho, ela disse, o sorriso de quem sabe onde pisa. (Ela que nasceu e cresceu em engenho de cana-de-açúcar, que já virou hotel, pousada ou restaurante ou grande empreendimento no Complexo Industrial-Portuário de Suape, aqui do lado).
Dito e feito. Zé, você pediu quanto pela cioba? Tanto, disse o garçom. E a agulha frita? Macaxeira e batata frita é tudo igual, tanto, apressou-se Zé. Assim, ele responde a cada item da conta, aliás, a alegre negociação, ao cair da tarde, na praia de Porto de Galinhas. Dona Beatriz soma na ponta do lápis, pois máquina de calcular ainda não chegou a seu negócio… Resultado: a despesas baixou. Baixou em 40%! Isso porque Marcelo, rindo à beça, parou de regatear…
Restou-me uma dúvida: o preço original da conta era o preço de gringo ou de paulista? Amanhã, voltarei lá. Não quero encerrar minhas férias em Porto de Galinhas com essa interrogação.
PS – Não toquei nos atropelos daqui nem nas obras viárias ou nas indústrias. Só a FIAT reservou 2.300 tarefas de terras para fabricar carros que, logo, logo, Osvaldo Martins venderá aos montes. Disso não falei, afinal estou de férias em Porto de Galinhas!
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