Fontes ricas e silenciosas
Por Cristina Moura
Cemitérios são excelentes locais para estudarmos História. São fontes de pesquisa constantes, pois recebem, quase todos os dias, moradores permanentes de seus túmulos. Não quero aqui estabelecer uma relação gótica com meu querido leitor. Nem quero incentivar lembranças dolorosas. É, sim, natural lembrarmos. Mas é tão natural também saber que todos iremos, um dia, morar por ali. Não há quem escape. Não estou pensando no meu dia nem quero que chegue logo. Na realidade, não tenho um pingo de moral para saber em qual dia será, como será, por que será. Isso é a chave do mistério que ronda todos nós.
O que quero pensar é a riqueza de detalhes de um local, às vezes tão menosprezado pelas autoridades. Às vezes tão causador de temor à população que crê em aparições ou assombrações. Digo com certeza: o temor, se existir, é de quem está com os olhos bem abertos e as maldades pulsando. São espertos e muito espertos aqueles que passam no local, não para rezar ou visitar. Os vândalos são aqueles que destroem por satisfação. Herdaram a palavra do povo bárbaro de raiz germânica, que estraçalhou parte da Península Ibérica, no século V. Em muitas situações, aprontam para protestar e nem roubam: somente vandalizam. Sentem prazer em destruir. Talvez uma rasteira demonstração de força e audácia. Talvez não saibam que ali não é apenas um reduto de silêncio eterno dos moradores. É um centro forte de dados para pesquisas, as mais diversas.
Podemos encontrar muitos exemplos, auxiliados pelas datas dos personagens que habitam aquelas construções. Podemos investigar em que época se construíram determinadas lápides; quais eram os materiais utilizados em certos períodos; de que forma são dispostas as fotografias dos falecidos; de que forma é a iluminação noturna; por que foram reservados pontos ecumênicos ou capelas; quais as famílias que exibem seus túmulos mais requintados; quais são as flores ou plantas que enfeitam os locais. Uma infinidade de temas. Lembrando, ainda, que é possível averiguar em que época e bairro foram construídos esses cemitérios e como era a cidade naquele momento. Temos mais um caso em que a História se irmana com outras áreas: Sociologia, Filosofia, Geografia. Veja que riqueza.
Quanto mais o poder público se distancia da vigilância a esses locais, menos teremos dados para pesquisar. Menos teremos o respeito como item indispensável a qualquer cidadão. Menos os mais fiéis e devotos terão lugares para simples rezas ou solenes visitações. Não são raras as notícias de vandalismo. Não são raras as notícias de estragos ao patrimônio de qualquer natureza. Não nos restringimos às pequenas, médias ou grandes cidades ou metrópoles. Vândalo é vândalo em qualquer praça. Estão aí alguns causos que conhecemos ou ouvimos falar. Se é para ter medo, não sei. Mas, se houver, sim: dos vivos.
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