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Edivan Rodrigues

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Guerra e fantasma na Alemanha

19/08/2011 às 13h15

Berlim. Diz a gaiatice popular que Napoleão perdeu a guerra em ridícula posição. Na minha estada de 20 dias na Alemanha, fui a Leipzig conferir o que há de verdade nessa maledicência. Por que Leipzig? Porque foi onde Napoleão Bonaparte (1769-1821) entrou em parafuso. Fui e não me arrependi. Em Leipzig ergueram um monumento alusivo à Batalha dos Povos, como os germânicos chamam as lutas travadas, em 1813, nos arredores da cidade, entre o poderoso exército de Napoleão e a aliança de países que resistiam a seu intento de dominar a Europa. Guerra braba. Estima-se em 100 mil mortos, algo como 20% dos que se envolveram diretamente na luta. Napoleão saiu de fininho e com pouco tempo se estraçalhou, definitivamente. Lenda ou verdade histórica, o Monumento lá está, gigantesco, construído 100 anos depois. De máquina em punho, não localizei, contudo, nenhuma figura na posição deprimente atribuída pelas línguas ferinas ao imperador da França…

Há em Leipzig coisas interessantes do ponto de vista literário, cultural e histórico. A Universidade de Leipzig existe desde 1409. Isso mesmo, 1409, quando Pedro Álvares Cabral sequer havia nascido. Em 1519, deu-se na Universidade o famoso debate entre teólogos que gerou a ruptura de Martinho Lutero com o Papa. Hoje funcionam importantes núcleos de ensino e pesquisa, com 30 mil estudantes. Isso, numa cidade de apenas 500 mil habitantes, onde a BMW tem fábrica e se realizam eventos internacionais de negócios que vão de livros a automóveis. Situada no estado da Saxônia, Leipzig faz a festa dos turistas, graças a sua arquitetura, às atrações gastronômicas, comerciais, artísticas, religiosas, musicais. A antiquíssima Igreja de São Nicolau entrou na história recente, pois em seu pátio nasceram e vicejaram manifestações políticas, pacíficas, que apressaram a queda do Muro de Berlim.

Leipzig abrigou artistas, compositores, intelectuais famosos e eternos. Reza a lenda que o jovem poeta Goethe foi estudar direito em Leipzig. Se ele aprendeu, pouco se sabe, muito vinho, porém, ele bebeu. Isso é certo, tanto que a Auerbachs Keller é a adega preferida pelos turistas para bater fotos. Por quê? Porque ali o jovem Johann Wolfgang Goethe (1749-1832) enchia a cara, diariamente, e encontrava inspiração para burilar seus personagens, inclusive Fausto, o mais badalado.

Não entrei na taverna. Quando pus os pés no primeiro degrau, me deu um sobrosso danado. Parei feito cavalo de sela quando cisma com alma penada em juazeiro de beira da estrada: estanca inquieto. Assim fiz. Minha filha, Débora, já pronta para o registro fotográfico, ficou espantada, que é isso meu pai, o senhor tá com medo?

Estava. Por isso, evitei a foto. De repente, um inexplicável medo invadiu minha alma. Apressado, saí da galeria onde fica o boteco em que o poeta Goethe encontrava o diabo, todos as noites… Daí em diante, um fantasma esvoaçou o restante de meu dia em Leipzig. Seria o fantasma de Cristiano Cartaxo, poeta de Cajazeiras?
 


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

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