Heráclito, o Caderno e a Vida.
O mundo, a vida e as coisas estão sempre em constante mudança. Isso já foi afirmado pelo grande filósofo Heráclito: "Tudo flui e nada permanece; tudo se afasta e nada fica parado….Você não consegue se banhar duas vezes no mesmo rio, pois outras águas e ainda outras sempre vão fluindo…. È na mudança que as coisas acham repouso….". Somos seres mutáveis, somos seres mutantes nas realidades vividas enquanto sujeitos destas mudanças ou enquanto interferidos por elas.
Ao se aproximar mais um final de ano, é sempre luzente o tema do "novo", e o da mudança. Parece que ao se aproximar as "festas" de final de ano, ficamos mais inclinados a acreditar – e isso é muito bom – que sempre é possível sermos melhores, que as realidades que durante todo o ano nos fizerem padecer, agora como que elas experimentam o toque da possibilidade da mudança, do novo que será restabelecido.
Sempre gostei de perceber a figura de um Caderno como uma metáfora da Vida Humana. A vida é como um caderno onde precisamos constantemente estar atento quais folhas ainda são úteis, quais precisamos retirar, substituir, rasgar e jogar fora no esquecimento do passado ou simplesmente restaurar se quando ainda for possível. E depois de tudo, perceber quais os escritos que necessitam permanecer na memória, guardados no mais íntimo da sacralidade de nós mesmos. Tanto a vida quanto um caderno são realidades sagradas necessários para um aprendizado maior: o Aprendizado das Coisas que devemos amar.
A vida tem seus segredos e seus mistérios. A vida tem seus tropeços e seus acertos. A vida tem seus “infernos” e seus “céus”. Semelhantemente, um caderno traz também nossos segredos e nossos mistérios. Um caderno traz nossos erros que em diversas vezes puderam ser apagados, concertados. Um caderno representa para mim muito mais que um objeto que na maioria das vezes é jogado em um esquecimento empoeirado em nossas estantes. Um caderno significa para mim como uma metáfora, onde: Todos os dias as coisas, as pessoas, o mundo deixam seus escritos em nós. E somos nós que escolhemos: Se apagamos ou sublinhamos estas palavras em nossas vidas.
Assim na vida como em um caderno, trazemos anotações também antigas escondidas na memória; palavras e nomes, pessoas e coisas importantes quanto à intensidade do cuidado. Nomes escritos como que rapidamente e às vezes sem critérios de importância ou de sacralidade. Assim somos nós: Insistimos em escrevermos em nossas páginas realidades e palavras sem o critério da essencialidade.
É maravilhoso perceber que tanto na vida quanto em um caderno é sempre possível recomeçar. É possível abrir-se a novas possibilidades de felicidade. Em uma atitude contínua, persistindo logo após cada erro de grafia ou cada erro de afeto ou de relação. É sempre possível voltar atrás, se arrepender dos “erros gramaticais” cometidos e a partir daí reorganizar as folhas, as linhas, os espaços, o espiral. Reorganizar a vida. Pois como diz o pensador: Tudo flui, tudo muda, é na mudança que as coisa acham repouso.
Novas palavras precisam ser escritas, antigas palavras traduzidas, contemporanizados na verdade e no tempo, novos amores precisam ser buscados, antigos amores precisam ser renovados, restaurados num contexto de sacralidade, de eternidade. Assim na vida com em um caderno é preciso que todas as linhas sejam tecidas de encanto e esperança, de saudade e de presença, de encontros e de distancias.
Assim na vida como em um caderno é preciso sempre escolher qual caneta deve usar.
Para saber mais
REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. São Paulo, vol. I, Edições Loyola, 1993
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