Ica e o teatro

Teatro Ica (Foto: Priscila Tavares/ Diário do Sertão)

Por Mariana Moreira – As celebrações dos 40 anos do Teatro Íracles Pires, ou apenas, Teatro Ica, como o carinho da cidade de Cajazeiras o acolhe, suscita algumas memórias e reflexões.

A primeira delas me transporta a infância e adolescência quando me encantava com a voz daquela mulher que, nas manhãs radiofônicas, ocupava os microfones da Rádio Alto Piranhas, dando vida ao seu “Mini Discoteca Dinamite”. E como, na minha intimidade de menina acanhada, se agigantava o sonho de um dia também ter a coragem daquela mulher que, ousada e inteligente, fazia críticas, analisava situações, tercia comentários e elogios. Mas também me inspirava a escritora, a teatróloga, a diretora de teatro que, improvisando palcos, transfigurando cenários, transmutando figurinos, levava arte e inteligência a colégios, cantos de ruas e praças.

E, nas celebrações dos quarenta anos do Teatro Ica me acende a lembrança da abertura do Mini Discoteca Dinamite quando Dona Ica sempre saúda seus inúmeros ouvintes, inclusive aquela tímida menina de Impueiras, com a expressão: “Bom dia, bom, dia, bom dia. E o meu bom dia todo especial…”. E aí o complemento poderia ser a cobrança da água que não chegava para tantos moradores da cidade, a ação positiva de um governante no atendimento de reivindicações e necessidades da população e tantos outros temas que a pauta do dia apresentava como necessidade de destaque.

Os quarenta anos do Teatro Ica traz também a reflexão da importância da existência de um equipamento dessa magnitude como espaço para a produção da arte, da criatividade, do talento que brota em tantos grupos e mentes e se personificam em peças teatrais, monólogos, shows. E como seria necessário que, em cada bairro da cidade, em cada distrito do município, existissem teatros onde a arte e a invenção humana do fazer criativo se manifestasse na expressão de sentimentos, desejos, falas e desenhos de sonhos e possibilidades de pensar a vida com mais arte e menos dor.

E a lembrança de Dona Ica e de sua postura crítica me chega na plateia do Teatro Ica como assistente da programação celebrativa dos quarenta anos da casa de espetáculo. Antes do início de cada evento uma mensagem é veiculada dando as boas vindas a todos os presentes e lembrando alguns procedimentos que devem ser seguidos por todos para assegurar a preservação do espaço. E, em dois dias, presenciei um deputado estadual, da base aliada do governo, na plateia, com copos de bebida, num total desrespeito às normas estabelecidas pela casa de espetáculo, que proíbe o uso de bebidas e comida no interior do recinto.

E, num lampejo de memória, me refresca a saudação de Dona Ica, no Mini Discoteca Dinamite:

– Bom dia, bom dia, bom dia, e o meu bom dia todo especial para o deputado estadual …. que, como representante do povo, dá mau exemplo, desrespeitando as normas do Teatro ICA. Parabéns deputado, o senhor é um modelo a não ser imitado, e nem mais votado…”

Bom espetáculo a todos!

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Mariana Moreira

Professora Universitária e Jornalista

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