Lúcia Braga
A eleição, em 1986, para a Assembleia Nacional Constituinte, proporcionou a então deputada Lúcia Braga, uma oportunidade de autoafirmação, como ela definiu no livro “Tempo de Viver, Tempo de Contar”. Lúcia foi eleita pelo PFL em 86 e indicada para vice-presidente da Sub Comissão de Direitos e Garantias Individuais, cujo presidente era o deputado paraibano Antônio Mariz. Contrariando a expectativa do seu partido, Lúcia votou sempre de acordo com sua consciência e os interesses populares, discordando frequentemente da orientação do PFL. “Como eu, algumas companheiras na Assembleia Nacional Constituinte romperam grilhões, rebelaram-se contra posições políticas tradicionais, contestando algumas o autoritarismo dos maridos, para obedecer aos ditames das suas consciências”, relatou.
Como assumia posições progressistas, Lúcia Braga era respeitada e bem aceita pelos grupos de esquerda. Ela esteve na linha de frente, por exemplo, da resistência ao “Centrão”, um bloco conservador que era numeroso e atuante, mas perdeu inúmeras batalhas por avanços nas questões sociais e trabalhistas. Divergia, em casa, do marido Wilson Braga, ex-governador, ex-deputado federal, que tinha ligações com grupos políticos conservadores da Paraíba. O casal selou um pacto de respeito mútuo para conviver em paz, mas Lúcia fazia algumas concessões para não prejudicar a carreira política de Wilson. No livro, a ex-deputada recordou o momento em que defendeu na Constituinte a aposentadoria da mulher aos 25 anos, fundamentando a sua tese na dupla tarefa da mulher mãe e trabalhadora.
“É preciso que eu faça justiça ao meu marido. Quando falo nos obstáculos que enfrentei para me afirmar na ANC, sempre me refiro ao PFL, pois Wilson Braga adotou uma postura admirável de respeito aos meus posicionamentos, mesmo quando estes não coincidiam com o seu ponto de vista. Isso me surpreendeu nele, nordestino de cultura machista. No entanto, se não me aplaudia, acredito até que no íntimo o meu marido admirava a forma como eu ia de encontro às posições do PFL para defender princípios nos quais depositava a minha fé”, testemunhou ela.
A ex-primeira-dama do Estado reconheceu ter tido uma modesta e discreta participação na Assembleia Nacional Constituinte que produziu a Carta Cidadã de 1988, na definição magistral de Ulysses Guimarães. Ela teve que se dedicar, como mãe, à recuperação da saúde da filha Patrícia, vitimada por um acidente automobilístico em 1988 e a outros desafios como o de ser candidata à prefeita de João Pessoa, abdicando deste último quando tinha 70% de aprovação popular no Ibope. Sua média final, no boletim do Diap (Departamento Intersindical de Assessoramento Parlamentar, que defendia causas dos trabalhadores) foi 4,75. Lúcia teve que se ausentar de votações decisivas para atender a outros compromissos urgentes, mas deixou fincadas posições combativas na ANC.
Ao registrar seu perfil parlamentar, o Diap anotou: “Em sua atuação na Constituinte, (Lúcia) teve postura nacionalista. Disse sim à proteção da empresa nacional e votou a favor da nacionalização do subsolo. Votou a favor da participação popular no processo legislativo e disse sim ao direito de voto aos 16 anos.
Presidencialista, votou contra os cinco anos de mandato para José Sarney. Votou a favor da reforma agrária. Declarou-se de centro-esquerda”. Era o primeiro mandato de Lúcia, que no governo do marido, eleito em 1982, havia sido presidente da Fundação Social do Trabalho, a Funsat.
Lúcia foi a primeira deputada federal eleita pela Paraíba e deu exemplos de sensibilidade, independência e altivez. Por isso mesmo era admirada por figuras de projeção nacional distintas como Leonel Brizola e Tancredo Neves. Lúcia Braga morreu sexta-feira, dia 8 e deixou um grande legado em defesa dos mais humildes.
(Nonato Guedes)
Rápidas
*O vereador Jucinério Félix afirmou que a gestão de Zé Aldemir não paga em dia aos seus funcionários (comissionados, efetivos e contratados) porque falta planejamento.
*O ex-presidente Lula criticou o pouco caso que o presidente Bolsonaro vem dando a pandemia do covid-19.
*População da zona norte volta a reclamar da qualidade da água (está barrenta).
*A presidente do Sindicato dos Funcionários Municipais de Cajazeiras confirmou ao irreverente Antonio Gobira, que está com um problema pela internet ‘Batento na Lata” que tem uma filha ocupando cargo comissionado na Secretaria de Educação do Município, colocada pelo prefeit, José Aldemir.
*Ela disse que ela trabalhou e votou e não via problema algum na sua nomeação.
*Após muitas cobranças por um posicionamento mais firme em relação ao atraso no pagamento dos servidores municipais, o sindicato enviou mais uma reclamação junto ao Ministério Público Estadual, pedindo providências.
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