Luiza Erundina
Por Francisco Cartaxo
Em andanças pelo Brasil, cumprindo tarefas profissionais como consultor, vez por outra encontro pessoas com as quais dá gosto conversar. E quando se trata de conterrânea, então aumenta o prazer. É o caso de Luiza Erundina. Nascida em Uiraúna, migrou para São Paulo, onde depois de muito batalhar venceu, superando fortes preconceitos por ser mulher, pobre e nordestina. Sua trajetória é conhecida o suficiente para relembrá-la neste curto canto de página. Basta dizer apenas que chegou à prefeitura da capital paulista, pelo voto direto, quando ainda era filiada ao Partido dos Trabalhadores.
Hoje, Erundina é deputada federal pelo Partido Socialista Brasileiro, aliás, desde 1998, eleita que foi nos três pleitos que disputou, com votação em torno de 200 mil votos, mais de 80% obtidos na capital. Nos últimos tempos, Erundina anda desmotivada, sem ambiente na câmara dos deputados, desiludida com a maneira de seus pares exercerem o mandato, a maioria preocupada em defender interesses pessoais e familiares, e de grupos econômicos e financeiros.
Em conversa recente, falamos, ela e eu, acerca de coisas assim. Mas não pense o leitor que nossa irmã sertaneja vai jogar a toalha fora. Nem pensar. É muito forte seu compromisso com parcela expressiva do eleitorado paulista, em particular, as comunidades organizadas. Os vínculos estreitos com os movimentos sociais, sobretudo os das periferias carentes, constituem a razão de ser de seu mandato parlamentar. Por isso, ela sacode a desilusão para longe e vai em frente. Não posso abandonar essa gente que me acolheu desde que juntos, ombro a ombro, começamos a lutar por uma vida mais digna, me disse Erundina, os olhos brilhantes, a voz firme de quem coloca o exercício do mandato a serviço do bem comum. Ela foi e continua sendo um daqueles políticos que pode olhar no olho do eleitor sem medo ou vergonha porque não tem o que esconder.
Sua vida política é um constante vencer obstáculos. Antes, na época da ditadura, depois nas enviesadas disputas internas do seu primeiro partido, o PT, cheio de tendências ideológicas a infernizar até mesmo sua gestão na prefeitura de São Paulo, como se não bastasse a contestação, poderosa que sofreu e sofre das elites, sempre inconformadas com a liderança de uma nordestina, e ainda por cima, pobre e mulher.
No PSB, quando Miguel Arraes comandava o partido, ela enfrentou outros tipos de problemas, bem menores é verdade, causados pelas concepções divergentes que cada um adotava quanto às táticas para enfrentar os problemas brasileiros. E seus reflexos no interior da agremiação. Mas os dois, Arraes e Erundina, mantinham afinidades fundamentais, entre elas, a sólida convicção democrática, o espírito público que desemboca no compromisso real de servir à população acima de tudo. Tive a sorte de conviver com Arraes, no poder e fora do governo, e posso dar este testemunho. Como faço agora com relação a Erundina, após a satisfação de reencontrá-la em Brasília.
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