O Papa é comunista? Ou Terra, Moradia e Trabalho
A Igreja em sua historia milenar, nunca deixou de amar e de fazer preferência pelos pobres. Ela sempre fez escolhas exclusivas por eles, mesmo quando estas escolhas pudessem levar ás incompreensões, perseguições e martírio. A igreja nunca terceirizou o mandato divino de amar o próximo como a si mesmo e de entregar a sua vida por aqueles que trazem em sua história e em suas vidas as marcas da exclusão social. Pelo contrário, se manteve o protagonismo profético durante todo o processo histórico.
Um mês antes da abertura do Concílio Vaticano II, o papa João XXIII enviou uma mensagem ao mundo. Nela, o pontífice enfatiza a palavra de Jesus como “luz” e que é missão da Igreja “irradiar” essa luz para e no mundo; fala ainda que da urgência da igualdade de todos os povos no exercício dos seus direitos e deveres, a defesa da família e a responsabilidade social. Neste contexto, João XXIII acrescenta o que considera “outro ponto luminoso” quando afirma que – no contexto dos países subdesenvolvidos – a Igreja se apresenta e quer realmente ser a Igreja de todos, em particular, a Igreja dos pobres. O primeiro lugar na Igreja é reservado aos pobres.
Pois bem, com isso fica claro que a centralidade “do pobre” e o querer “a Igreja dos Pobres” tão fortemente evidenciado nos discursos do Papa Francisco não constitui em sí uma novidade histórica. O Papa João XXII, antes do Concílio Vaticano II já expressava esse desejo que somente três anos depois, na Conferencia do Episcopado latino-americano em Medellín (1968), a semente germina e começa a crescer e a produzir muitos frutos. Nascia naquelas circunstancias ,uma Igreja profética, pobre e comprometida com os pobres; Igreja de todos, mas, sobretudo, Igreja dos pobres; Igreja da libertação. Onde uma de suas características mais importante foi e continua sendo o que se convencionou chamar Opção preferencial pelos pobres. Como vemos, a igreja não passou a amar e a preferir uma Igreja Pobre e para os pobres apenas no Pontificado de Francisco. Ele sim, atualiza o profetismo do ensinamento da Igreja sobre esse e muitos outros aspectos que estão na Doutrina Social da Igreja.
Entre os dias 27 e 29 de Outubro deste ano, o Papa Francisco se encontrou com os Movimentos Populares de todo o Mundo em Roma que foi coordenado pelo Pontifício Conselho Justiça e Paz e pela Pontifícia Academia das Ciências. Terra, domus, labor (Terra, Moradia e trabalho) esses foram os três temas fundamentais sobre os quais o Papa Francisco desenvolveu o seu discurso aos participantes deste Encontro Mundial.
Neste encontro, o Papa Francisco inicialmente constata,
“Este encontro de Movimentos Populares é um sinal, é um grande sinal: vocês vieram colocar na presença de Deus, da Igreja, dos povos, uma realidade muitas vezes silenciada. Os pobres não só padecem a injustiça, mas também lutam contra ela”.
E ainda,
“Não se contentam com promessas ilusórias, desculpas ou pretextos. Também não estão esperando de braços cruzados à ajuda de ONGs, planos assistenciais ou soluções que nunca chegam ou, se chegam, chegam de maneira que vão em uma direção ou de anestesiar ou de domesticar. Isso é meio perigoso. Vocês sentem que os pobres já não esperam e querem ser protagonistas, se organizam, estudam, trabalham, reivindicam e, sobretudo, praticam essa solidariedade tão especial que existe entre os que sofrem, entre os pobres, e que a nossa civilização parece ter esquecido ou, ao menos, tem muita vontade de esquecer”.
Terra, moradia e trabalho são direitos sagrados e inalienáveis do homem; lutar por eles não se constitui atitudes raras, mas sim é pura Doutrina Social da Igreja. Francisco vai ainda afirmar que aquele Encontro Mundial com os Movimentos Populares é uma resposta a um anseio muito antigo e concreto: “Um anseio que deveria estar ao alcance de todos, mas que hoje vemos com tristeza cada vez mais longe da maioria: terra, teto e trabalho. É estranho, mas, se eu falo disso para alguns, significa que o papa é comunista”.
Como sempre, uma igreja profética e lúcida com relação às graves questões sociais de nosso tempo. Como sempre, desde o inicio do seu pontificado, o Papa Franscisco mostra-se o homem da pedagogia do encontro. Pela primeira vez, um papa muda de interlocutores e ouve aqueles Movimentos Populares sérios que de fato representam os pobres. Um único encontro precedente destes, aconteceu justamente com o então Papa João Paulo II em 1980, durante sua primeira viagem ao Brasil.
Discurso na ÍNTEGRA AQUI – Em Espanhol
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