O sonho de Maria de Diá

Por Francisco Sales Cartaxo – Célia Maria e eu andávamos que nem turistas no centro de Cajazeiras, dia 21 de agosto. Ela espantada com a diversidade de lojinhas e seus artigos expostos. Entrou em algumas delas. Estivemos com Landim na farmácia, mas não fomos cumprimentar, mais adiante, o professor Zé Antônio, subir a escada do prédio do Gazeta? Nem pensar! Minha esposa encurtou a pulseira do relógio num quiosque, na antiga Praça dos Carros, onde, após sério tiroteio, os cangaceiros, chefiados por Sabino Gomes, lugar-tenente de Lampeão, dobraram para o lado do açude.
Fizemos o percurso do bando.
Na rua Epifânio Sobreira, ela exultou ao encontrar numa bijuteria o que procurava na internet há dois meses! Entramos na Livraria Leia para falar com Rubismar Galvão, sempre muito ocupado, vigilante com suas lojas e os problemas de Cajazeiras. Seguimos rumo ao balde do Açude Grande. Aqui e ali, narro fatos de antigamente, faço comparações com o tempo presente. Antes de chegar a nosso destino, cumprimento com um boa tarde um casal sentado em cadeiras na calçada.
– É Frassales, bem que eu lhe disse, falou a mulher com alegria na voz e nos olhos.
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Só então reconheci Diá, que em 1982 era dedicado servidor do Cartório Eleitoral. Francisco de Assis Santos. Diá! Por instantes, esquecemos o Leblon, o sol já sumindo na linha do poente. Ali mesmo na calçada houve minúscula sessão nostálgica da época em que, à moda Dom Quixote, topei enfrentar as maiores lideranças políticas de Cajazeiras, abrigadas nas sublegendas do PDS. O médico Epitácio Leite, reforçado pelo apoio de Bosco Barreto, que até há pouco mantinha comigo animados sonhos, mas preferiu a sombra do poder por intermédio do rico dono de usina de algodão, Zé Gadelha, pai do deputado federal Marcondes Gadelha. O prefeito Chico Rolim tentava fazer o seu sucessor, lançando o jovem médico Vitoriano de Abreu. O trio Acácio Braga, Patrício Nogueira e eu, em sublegendas do PMDB, e Zé Maria Gurgel do PT éramos os candidatos de oposição.
– Frassales, o senhor não se lembra, mas realizou um sonho meu!
A ficha não caiu. Maria logo explicou.
– O senhor procurou Diá para apressar o preenchimento das fichas de filiação ao partido, ele tava muito ocupado e me pediu para eu fazer. Aí eu fiz tudo direitinho. Um dia, o senhor foi ao Cartório, olhe Maria, isso é para você fazer um lanche!
Maria exultava de felicidade.
– Fazia um tempão que desejava comprar uma estante, mas cadê o dinheiro? Seu agrado não era muito, mas deu pra eu comprar a estante, bem ali, numa loja que nem existe mais. A gente sempre dizia, pega ali na estante de Frassales! Realizei meu sonho!
Célia Maria quis fotografar, a estante não existe mais.
Emocionados, seguimos até o balde do Açude, o sol já sumido, bebemos água de coco no bar de Fonfon, globalizado pelo Fantástico.
Mas isso é outra história.
Sócio da Academia Cajazeirense de Artes e Letras
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