Padre Cícero do Juazeiro e Bosco Barreto
Por Francisco Cartaxo
“Amiguinhos” era como padre Cícero tratava os fieis. Bosco Barreto saudava o povo em comícios e passeatas assim: “Meus irmãos! E minhas irmãzinhas, também”. Candidato a prefeito em 1.972, deputado estadual dois anos depois, suplente de senador em 1.978. Até aí pelo MDB. Em 1.982, tentou sem sucesso retornar à Assembléia, já no PDS. De todos os políticos de Cajazeiras, João Bosco Braga Barreto foi o que mais se apropriou de técnicas de comunicação para angariar simpatia e votos entre admiradores do padre Cícero Romão Batista, na esteira de sua enorme popularidade. Ele agia de caso pensado, com pleno conhecimento das formas de manipulação das massas, empregando-as com inteligência. E obtendo compensadores resultados eleitorais.
No auge da ditadura militar, Bosco Barreto requereu a retirada da candidatura de Higino Pires Ferreira (Gineto) a prefeito de Cajazeiras, pela Arena (1.972). Candidatura tida como vitoriosa, antecipadamente, pois fora engendrada pela elite local com o respaldo do governador Ernani Sátyro, no melhor estilo da época. Ele argüiu a inelegibilidade do adversário, sob a alegação de que Gineto não se afastara, em tempo hábil, do cargo de direção na Cooperativa Banco Agrícola de Cajazeiras. A partir daí, Bosco alardeou o compromisso de rasgar em praça pública o diploma de advogado, se perdesse a causa. Diploma, aliás, conquistado havia poucos anos.
No dia em que a Justiça confirmou que Gineto era inelegível, presenciei inesquecível episódio protagonizado por Bosco Barreto. Ele se dirigiu à Praça Padre Cícero para agradecer o presente recebido, quase um milagre concedido a ele, humilde devoto do padim Ciço. Com aquele seu jeito de falar, fez-se forte, corajoso, vencedor. Enfrentou e venceu os poderosos de Cajazeiras, derrubou o candidato do “sistema”. (Sistema era o nome dado ao poder real no regime militar.) Deitou e rolou diante de meia dúzia de ouvintes, entre os quais o autor destas reminiscências.
Naquela noite Bosco agigantou-se. Deu o grande impulso à campanha rumo à prefeitura. E quase derrota o então jovem advogado Antônio Quirino de Moura, que substituiu Gineto na chapa governista. Bosco não venceu nas urnas, mas montou as bases para afirmar-se como o maior líder populista da história de Cajazeiras, na segunda metade do século 20. Para tanto, foi essencial a recorrência à proteção do padre Cícero, consolidada, aliás, com a romaria até o Juazeiro do Norte, que ele inventou e conduziu, em 1.972, para agradecer a vitória, como classificava a votação inusitada em face das condições adversas da época. Romaria a pé, com extraordinária cobertura da mídia regional.
A saudação às massas, “Meus irmãos! E minhas irmãzinhas, também”, vez por outra ainda lembrada em conversas sobre nossa história política, era um grito de guerra, de efeito mobilizador de rara eficácia. Por quê? Talvez porque guarde semelhança com o tratamento costumeiro, “amiguinhos”, do padre Cícero. É possível que Bosco Barreto tenha ido buscar naquele coloquial modo do patriarca do Juazeiro dirigir-se às pessoas a inspiração para seu ressoante: “Meus irmãos! E minhas irmãzinhas, também”.
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