Para Ricardo ler na praia
A surpreendente vitória de Ricardo Coutinho no primeiro turno se desdobrou em alegrias e tristezas sub-regionais. Nos 15 municípios da região de Cajazeiras, por exemplo, Zé Maranhão venceu com a vantagem de apenas 648 votos, captada em 10 deles. Perdeu em Cachoeira dos Índios, Monte Horebe, São José de Piranhas, Uiraúna e Cajazeiras. Neste, a maioria de Ricardo foi de 3.305 votos. Talvez por isso, o guia eleitoral de Ricardo destaque, agora, como futuras ações de governo, em Cajazeiras, a construção de moradias, o apoio a pequenos negócios e a ampliação do Hospital Regional.
Mesmo sem ter ajudado o candidato do PSB a vencer em Cajazeiras, faço esta reflexão para Ricardo ler na praia, após o dia 31: mais importante do que ampliar o Hospital é mantê-lo longe dos caçadores de votos. Explico com um pouco de história. Nascido de iniciativa da diocese, na longínqua década de 1940, o HRC tornou-se desde então patrimônio legal do Estado da Paraíba. Na prática, porém, virou instituição a serviço de chefes políticos, administrada como se fosse instrumento privado, muito embora com enorme serventia à população.
Esse quadro secular começou a mudar, recentemente, quando o velho hospital foi se transformando em núcleo do ensino universitário de saúde, um local para treinar centenas de estudantes dos cursos da área de saúde (dois de medicina, dois de enfermagem, um de fisioterapia, um de farmácia, um de psicologia) já funcionando ou autorizados pelo MEC, no âmbito da UFCG e da Faculdade Santa Maria. Portanto, o HRC é hoje o suporte indispensável para consolidar, em Cajazeiras, um pólo de formação de profissionais de saúde de nível superior no interior do Nordeste. Por isso, não pode entrar no jogo do cordão azul ou do cordão encarnado, ainda que no pastoril político um deles tenha contribuído para o sucesso eleitoral de Ricardo.
A gestão atual do HRC é fruto de um arranjo em que o comando é compartilhado pelos três entes federativos: a União via UFCG, o estado da Paraíba e o município de Cajazeiras. O modelo opera em precário equilíbrio, monitorado à distância pela sociedade civil organizada, que, nos momentos de crise aguda, em articulação com a UFCG, ajudou o governador José Maranhão a engendrar soluções emergenciais que o resguardaram de prejudiciais investidas eleitoreiras. Esse modelo de gestão, todavia, não garante a integridade do Hospital para os fins mais relevantes de servir ao ensino e de ofertar serviços de qualidade à população.
Daí porque renovo o apelo: Ricardo, faça uma reflexão profunda com base no que tem sugerido o Movimento dos Amigos de Cajazeiras (MAC), a partir do documento que serviu de estímulo ao I Fórum de Desenvolvimento de Cajazeiras. Fórum que levou àquela cidade, no dia 9 de abril de 2010, o então pré-candidato Ricardo Coutinho para debater com a comunidade temas de interesse coletivo. Entre eles, o fortalecimento do pólo de ensino superior e o modelo de gestão do Hospital Regional. Duas coisas inseparáveis que precisam ficar juntas. E distantes dos caçadores de votos.
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