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Edivan Rodrigues

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Pausa para um poeta morto

04/05/2012 às 17h03

Morreu em Fortaleza o poeta José Maria Barros Pinho, na manhã de sábado, dia 28 de abril. Falência múltipla dos órgãos, dizia a primeira e lacônica notícia do site do Diário do Nordeste, postada ao lado da foto em que ele aparece de gravata vermelha. Não pude fazer mais nada, a não ser voltar à internet, de vez em quando, à cata de outras informações, na esperança de aplacar a ansiedade ao saber, assim de supetão, da morte de quem foi meu melhor amigo na época de estudante no Ceará. A conta-gotas fui lendo outros informes. Ele fora internado com crise hipertensiva. Dias depois, sobreveio um infarto. O coração fraquejou.

Barros Pinho nasceu em Teresina. Adolescente, foi com a família morar em Fortaleza, onde o pai montou uma bodega em rua próxima ao centro, aí pelos meados do século passado, quando a capital cearense ainda exibia jeito de cidade provinciana. Residência e negócio estavam no mesmo endereço, aonde, às vezes, ele me levara para almoçar. O movimento estudantil nos aproximou. As portas da União Estadual dos Estudantes (UEE) se abriram para mim, após o congresso da UNE, realizado em Niterói. Ali meu colega da Faculdade de Direito, Roberto Amaral, fora eleito secretário da UNE para a gestão 1961/62, e eu o substitui numa diretoria da UEE, então presidida por Manuel Aguiar de Arruda.

Professor, formado em administração, Barros Pinho manteve durante muitos anos, o Colégio Oliveira Paiva, em homenagem ao escritor cearense do século 19, falecido muito jovem, sem ter visto publicado na íntegra o romance “Dona Guidinha do Poço”, obra indispensável a quem estuda história da literatura brasileira. O poeta Barros Pinho foi militante político desde o tempo de secundarista. Desenvolveu atividades políticas sob a legenda do PCB, MDB, PMDB. Foi vereador em Fortaleza, deputado estadual, também exerceu diversos cargos no poder executivo do Estado e em municípios cearenses, tendo sido prefeito de Fortaleza, nomeado em 1985. A morte o encontrou no exercício de seu último cargo público: secretário municipal de cultura de Maracanaú.

No campo das artes, escreveu poemas e contos, publicados em jornais, revistas e cerca de uma dezena de livros. Integrou a Academia Cearense de Letras e outras instituições ligadas à arte de escrever e falar. Como orador, Zé Maria gostava de construir frases de efeito e em debates políticos era useiro e vezeiro nas tiradas irônicas, cheias de humor desconcertante… Como homenagem póstuma, escolho esta amostra da produção literária de Barros Pinho, um poema publicado em livro de 1969, numa época de censura, sombra e chumbo, repressão e tortura, que ele sofreu como preso político no regime militar.

Liberdade
sou o vento/amo a amplidão/das coisas/ninguém me contém/em suas gaiolas/ando descalço/sem manchar os pés/tenho asas como beija-flor.
Vá poeta, voe como o beija-flor de sua imaginação pelos caminhos da eternidade. E descanse em paz.
 

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

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