Platão e a Educação que Descaverna
Um prisioneiro que se liberta da sua escravidão cotidiana e pedagógica. Homens acorrentados desde sua infância realizam o improvável: Conseguem, mesmo inseridos numa escuridão material e existêncial, perceber o que é realmente belo e verdadeiro. A tudo isso, Platão atribui a finalidade primeira do processo educacional: Educar é, sobretudo trazer esse sujeito do processo educacional, para a luz, para fora da “caverna”.
Examinando o processo de libertação de um dos prisioneiros da caverna, Platão levanta uma importante e fundamental questão: Como acontece o processo libertador? Esse processo parece ser caracterizado por ele como algo difícil, doloroso e até mesmo sofrido. É estranha a maneira como pensador descreve, no decorrer do mito da caverna, o momento em que acontece de forma gradual a libertação de um dos prisioneiros, onde está nesta condição desde a sua infância.
Percebemos que o prisioneiro não é libertado por nenhuma força externa, mas por um conflito interno entre duas forças que se encontram em sua alma, a saber, a força do hábito ou da acomodação e a força do impulso, da curiosidade, que o estimula para fora, para buscar algo além de si mesmo. Como quem busca a possibilidade da abertura de uma Janela, onde possa vislumbrar a partir dela uma nova realidade. A força do hábito seria a confortável justificativa teórica e ideológica da submissão á uma situação de ignorância, de “não-entendimento” que o arrasta desde a infância, ao passo que a força da curiosidade o torna insatisfeito, frustrado e infeliz. Tomando o conceito marxista de alienação, seria que a realidade material do acorrentamento e aprisionamento responsável em deixá-lo avesso ao real.
Platão parece inaugurar aqui a ideia de que toda educação baseada em costumes ou em tradições, mostra-se muitas vezes como barreira para a construção do novo, para a desalienação política e social do homem. Quando ideais educacionais ou práticas pedagógicas se fundamentam em costumes habituais ou em simples tradições vazias, sem contexto, tornam o homem – que é objeto primeiro da educação – um ser nebuloso e alienado, não conhecendo a realidade á sua volta.
A educação entendida pelo filósofo, traz em si a capacidade de libertar o homem de si mesmo, de seus condicionamentos e grilhões. Essa educação liberta-o de realidades exteriores que o impede de contemplar lucidamente o belo, a verdade e de atingir o mundo inteligível, o mundo do saber. Uma concepção de uma educação onde o processo educacional libertador tem inicio a partir de dentro, da tensão dialética no interior do homem é apresentada por Platão.
A educação platônica procura provocar no homem uma harmonia estrutural no seu psiquismo e nas suas relações enquanto ser social e dinâmico.Nesse caso, a educação do homem seria uma realidade que estava fortemente relacionada com o ideal da polis. Este ideal educacional não estava para formar o individuo para si mesmo, mas para a sociedade. E será esta sociedade, o lugar apropriado para o exercício de uma educação que descaverna o sujeito, a qual tem por base a busca tanto pela sua felicidade quanto pela de todos os outros indivíduos. Felicidade esta que se caracteriza, sobretudo, pela real distinção entre o que de fato torna homem feliz.
Platão vai deixar claro que o homem quando educado, consegue estabelecer esta distinção, quando procura pautar-se numa vida virtuosa. E o que é ser virtuoso se não aquele que procura estabelecer um equilíbrio entre o que é prazeiroso (sensíbilidade/opinião) e racional (compreensível/racional). A felicidade se encontra no justo equilíbrio entre estas duas realidades: Entre o que desejo e o que me percebo sabendo, conhecendo.
A partir disso, o fundador da academia de Atenas, estabelece paradigmas para uma nova educação, alicerces para a construção de novas estruturas de pensamento. Estas novas estruturas, representam também uma nova pedagogia antropológica. Em Platão, o verdadeiro pedagogo, o verdadeiro educador-filósofo e o verdadeiro objetivo da educação está em libertar o homem do seu mundo de sombras,de imagens, da ignorância original, do seu mundo de opiniões e conduzi-lo ao mundo inteligível e racional. Sair do mundo das trevas para o mundo da luz, o mundo da ciência.
Portanto, a verdadeira educação tem a responsabilidade imperiosa de tornar o homem livre de toda ignorância existencial, de toda servidão cega às estruturas de poder que o acorrentam.
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