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Damião Fernandes

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Porque ler Kant? ou o inquisidor da Razão.

13/01/2016 às 08h30

Kant é por excelência o pensador da modernidade. É impossível falar ou escrever sobre a filosofia moderna e não mencionarmos o nome de Immanuel Kant (1724-1804), devido à grande importância e do impacto que seu pensamento teve para o desenvolvimento do conhecimento ocidental. O conjunto da obra kantiana traz em si o método da crítica sobre as possibilidades e capacidades da razão em conhecer ou estabelecer princípios absolutos sobre a realidade. Kant nasceu no dia 22 de abril de 1724 em Königsberg, pequena cidade da Prússia. Morre em 12 de fevereiro de 1804, ás vésperas de completar 80 anos, sem nunca ter abandonado sua cidade natal. Como fruto da sua maturidade intelectual, as principais obras do seu criticismo e um dos eixos centrais do seu pensamento são: Crítica da Razão Pura (1781), a Crítica da Razão Prática (1788) e a Crítica da Faculdade de Julgar (1790). Suas teses foram consideradas causadoras de uma revolução copernicana.

O pensamento kantiano é considerado como o iniciador de uma grande revolução na estrutura do pensamento moderno. Tal qual Copérnico que substitui o sistema geocêntrico – teoria do universo geocêntrico, onde a terra está parada no centro do universo e o Sol e outros astros giram no seu entorno –  milenarmente aceito como verdade absoluta desde às construções teóricas aristotélicas e ptolomaicas pelo sistema heliocêntrico –  teoria do universo Heliocêntrico, onde o Sol está parado no centro do universo e a terra e outros astros giram no seu entorno. Portanto, Kant em sua Crítica da Razão Pura lança os fundamentos para a construção de novas configurações sobre o conhecimento humano ou uma nova revolução copernicana no campo da epistemologia. Primeiro, afirmando que o objeto não se constitui como ente absoluto na relação do conhecimento entre sujeito-objeto, como vinha sendo afirmado pelo conhecimento metafisico.

Kant provoca uma inversão dos pressupostos metafísicos, de acordo com os quais o conhecimento das coisas seriam absolutamente regulados pela natureza do objeto. Segundo, que o homem somente pode conhecer aquilo que sua mente pode apreender dos objetos, ou seja, nosso conhecimento é limitado por causa das possibilidades de nossas capacidades receptivas e racionais. No homem, a sensibilidade provocada pelos objetos não é suficiente para produzir o conhecimento. A origem do conhecer não está em instancias fora de nós, mas sim em nossa própria faculdade de conhecer. Portanto, existe ao mesmo tempo em Kant uma ruptura epistemológica metódica entre sensibilidade e entendimento.

O criticismo kantiano estabelece uma manobra epistemológica audaciosa, quando em primeiro momento aceita os postulados filosóficos dos empiristas quando eles estabelecem que o conhecimento tem sua origem na experiência sensível, mas ao mesmo tempo não dispensa os pressupostos do racionalismo, quando afirmam que as intuições abandonadas a si mesmas não representam nada, que na verdade, todo sentido necessita de instancias separados da experiência e brutalmente independente dela, a própria razão. Nesse intento, Kant é ambicioso.

Kant se propõe a instaurar um grande tribunal para a Razão onde nele se estabeleçam a esfera onde se situam os princípios da razão, criterizar os seus usos e metrificar seu alcance. Kant queria saber o que a Razão pode e não pode conhecer? Quais os seus limites gnosiológicos? Instaura-se aqui um novo modo de pensar em filosofia, uma metodologia reflexiva inédita, ou seja, a razão que debruça-se sobre si mesma, onde o discurso racional será questionar-se sobre a validade desse mesmo discurso como ciência.

Esse período é considerado a época crítica, visto ser o período onde a razão é tida como a grande e absoluta instância discursiva válida, fruto das reivindicações do Movimento Iluminista do Século XVIII, onde acreditavam que o uso da razão era o único caminho para se alcançar a liberdade, a autonomia e a emancipação. É consensual que o pensamento kantiano é tanto fundamental para todo pensamento moderno quanto para as configurações do pensamento atual. A gigante importância do kantismo está muito além das obras citadas anteriormente.

Kant distingue o conhecimento sensível (que abrange as instituições sensíveis) e o conhecimento inteligível (que trata das ideias metafísicas). Em seguida, surgem as grandes obras da maturidade, onde o criticismo kantiano é exposto. Em 1781, temos a Crítica da Razão Pura, cuja segunda edição, em 1787, explicará suas intenções “críticas” (um estudo sobre os limites do conhecimento). Os prolegômenos a toda metafísica futura (1783) estão para a Crítica da Razão Pura assim como a Investigação sobre o entendimento de Hume está para o Tratado da Natureza Humana: uma simplificação brilhante para o uso de um público amplo.

A Crítica da Razão Pura explica essencialmente porque as metafísicas são voltadas ao fracasso e porque a razão humana é impotente para conhecer o fundo das coisas. A moral de Kant é exposta nas obras que se seguem: o Fundamento da Metafísica dos Costumes (1785) e a Crítica da Razão Prática (1788). Finalmente, a Crítica do Juízo (1790) trata das noções de beleza (e da arte) e de finalidade, buscando, desse modo, uma passagem que uma o mundo da natureza, submetido à necessidade, ao mundo moral onde reina a liberdade.

Kant é o pensador que instaura um processo de inquisição contra a capacidade da razão de conhecer e para estabelecer os limites dela, justamente num período em que se idolatravam as capacidades racionais do homem e endeusavam o intelecto humano. Kant é o justo filósofo que começa a delinear novos meandros analíticos para a filosofia e para o homem moderno. É por isso que muitos historiadores da filosofia afirmam que não é possível pensar filosofia sem Kant. Ou contra ou a favor, mas nunca indiferente às suas ideias.  

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

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