Previsões e palpites
Essa gente não se emenda. Sai ano entra ano e só palpite. Não me refiro às previsões dos que recorrem às cartas, búzios e afins. Muito menos aos profetas da chuva. Estes têm pacto com os mistérios da natureza. Penso nos “especialistas”, que montam cenários econômicos e políticos, repletos de índices: PIB, inflação, desemprego, taxa de câmbio, essas coisas. Agora me vem à memória o cenário desenhado para 2002 por um economista que, ao final de brilhante conferência, custeada por banco estrangeiro, concluiu sua fala, mais ou menos assim:
“Diante das considerações e análises, contextualizadas com rigor cientifico, e em face da quantidade de variáveis interferentes, torna-se difícil, senão impossível, indicar com segurança a taxa exata do PIB, mas, certamente, deverá se situar num intervalo compatível com o desempenho da economia brasileira nos últimos anos, sob a égide da estabilidade da moeda, conquistada graças à clarividência, à obstinação, à competência de Fernando Henrique Cardoso. Mas, se vocês querem um referencial numérico, eu diria que o PIB de 2002 ficará entre 1.59 e 2.38. Veja bem, se na economia persiste esta dúvida, no campo político, porém, temos uma certeza: Lula não será eleito presidente da República”.
O auditório quase veio abaixo. A “previsão” ajustava-se exatamente ao desejo dos convidados do banco, tal qual a luva se encaixa na mão direita. Talvez a mesma mão que repassara o cheque ao então experiente ex-ministro. A realidade eleitoral de 2002 foi cruel para a convicção do palestrante, cuja única certeza, aliás, gerou dor de cabeça. É bem verdade que a dor de cabeça foi passageira, como se viu depois, o Banco Central entregue a confiável saber pragmático. Tanto que o aplaudido (e regiamente pago) cenarista não ficou tão mal assim. Correu à mídia para revelar velha admiração pelo então recém eleito presidente-operário, inteligente, conciliador, com invejável trajetória sindical, sem esquecer sua sofrida origem. E ainda confidenciou distantes afinidades ideológicas…
Passados seis anos, quem se viu em maus lençóis foi o banco estrangeiro patrocinador (a custo zero para os clientes) dos momentos de sabedoria do autor dos ansiados palpites. Nada a ver com a eleição de Lula, é claro. O banco surfou no subprime imobiliário americano, acreditando, quem sabe, nas “avaliações rigorosas” das agências de classificação de risco… E dele mesmo. Hoje quebrado, sequer teve grana para contratar o conferencista-palpiteiro da moda em 2008…
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