Que a aprovação do piso nacional traga dignidade aos radialistas

Por Caliel Conrado – Tomara que o Projeto de Lei da deputada Yandra Moura, que propõe um piso nacional de R$ 4.236,00 e jornada de 30 horas semanais para os radialistas, seja finalmente aprovado. Chega de romantizar uma profissão essencial à democracia, mas tratada com descaso e hipocrisia.
Muita gente ainda acredita que o radialista vive de fama e dinheiro fácil. Ledo engano. Em Cajazeiras, por exemplo, a maioria recebe apenas um salário mínimo. E, se quiser ganhar um pouco mais, precisa “botar uma pasta debaixo do braço” e sair vendendo comerciais pelas ruas. Mesmo assim, a carteira de trabalho segue assinada apenas como apresentador, mascarando a realidade de um profissional que faz de tudo dentro de uma emissora.
Enquanto isso, o Sindicato dos Radialistas da Paraíba permanece omisso e inoperante, surgindo apenas em tempos de eleição. Nenhuma atuação concreta, nenhuma defesa real da categoria.
Os donos de rádio, com raras exceções, pagam mal e exploram muito. Querem que o radialista seja uma espécie de “bucha de canhão”, usado para atacar políticos e pressionar por contratos publicitários. Eu mesmo já fui vítima dessa prática recentemente. É uma relação injusta e degradante, que transforma comunicadores em peças de um jogo mesquinho de poder. Os que se recusam a participar dessa prostituição moral são descartados sem o menor pudor — e, pior, “queimados” publicamente pelos próprios donos do poder, que não toleram independência nem dignidade.
Mas há um temor real: com a implantação do piso nacional dos radialistas, é provável que venha uma demissão em massa. Os donos de rádio, como sempre, alegarão não ter condições financeiras para pagar. É a mesma choradeira de sempre. Porém, é importante perguntar: quantos desses donos teriam capacidade de estar diariamente no ar, apresentando e produzindo um programa?
Estar à frente de um microfone não é fácil. É exposição constante, pressão psicológica, ameaças, cansaço, incentivo zero. O trabalho do radialista vai muito além do estúdio — é pauta nas ruas, é apuração em casa, é sacrifício diário. Mas, para alguns donos, isso simplesmente não existe. O esforço humano por trás da voz que informa, entretém e forma opinião é invisível aos olhos de quem lucra com ela.
Para não passar fome, muitos profissionais acabam acumulando cargos de assessoria em prefeituras, câmaras e gabinetes, tentando equilibrar dignidade e sobrevivência. Mesmo assim, ainda enfrentam ameaças e restrições por parte de patrões que não toleram independência.
A verdade é dura: a classe está acorrentada, dividida entre a necessidade de trabalhar e o medo de se posicionar. O rádio, que sempre foi a voz do povo, hoje tem seus próprios trabalhadores emudecidos pela precarização e pelo silêncio cúmplice de quem deveria defendê-los.
Está mais do que na hora de mudar isso. O piso nacional dos radialistas não é um privilégio — é justiça. É o mínimo para quem leva informação, cultura e cidadania ao ar todos os dias.
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