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Radomécio Leite

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Racismo na campanha de Cajazeiras?

26/09/2008 às 18h25

Pela primeira vez na sua história política, a cidade de Cajazeiras tem um candidato a prefeito com origens afro-descendente. E este fato tem levado algumas pessoas com ranços medievais e profundo sentimento de racismo a externarem atos que chocam a nossa sensibilidade e nos deixa estupefato.
Por diversas vezes presenciei por parte de alguns eleitores conversas em que ficou mais do que evidenciado um arraigado preconceito contra o candidato Mário Messias Filho, conhecido por Marinho, candidato pela Coligação“Juntos por amor a Cajazeiras”.

Frases como: “aquele negro”, “esse negão”, “nego safado”, “Cajazeiras não pode eleger um prefeito com esta cor”, “a sociedade cajazeirense não pode aceitar este tipo de gente como prefeito” entre outras frases “impublicáveis” deixa claro e evidente o quanto existe em nossa cidade cidadãos que vociferam dos seus intestinos vômitos de ódio e revolta contra pessoas que possuem a cor de sua pele diferente da branca, de origem européia, embora de forma velada, fica demonstrado um doentio racismo.
Poderíamos até entender que do ponto de vista político-partidário todo e qualquer impropério jogado contra o adversário seja válido, principalmente quando vivemos um momento extremamente delicado de uma eleição municipal, mas este tipo de comentário fere a dignidade humana e os princípios cristãos.

Não será, creio eu, fazer aqui nesta coluna, um histórico da importância dos cidadãos afro-descendentes que povoam com mais de 48% o nosso território e vivem espalhados pelos brasis afora e da relevância que têm no processo de desenvolvimento econômico e social de nossa Pátria. Somente pessoas incautas e sem uma autêntica formação de brasilidade e cidadania é que coloca neste patamar de exclusão homens e mulheres que têm dado os mais nobres exemplos de inteligência, capacidade de trabalho e orgulho de ter feito com que esta Nação, do ponto de vista da miscigenação, fosse uma das mais democráticas do mundo.

Associada a esta famigerada campanha surda de racismo, outros cidadãos têm de forma pejorativa colocada a empresa deste candidato, que está registrada como prestadora de serviço de coleta de lixo como se isto fosse uma atividade inferior, menos nobre. Criou-se até uma chamada: “O Negão do lixo” e uma música a “dança da vassoura” está sendo veiculada para servir de defesa das veladas “conversas indignas” contra Marinho: “… diga aonde você vai, que vou varrendo…”.

Esta tentativa de “impingir” a este candidato termos pejorativos não condiz com as tradições de cidade culta e educada, berço tradicional da fé cristã e das letras. Vale até lembrar que muito antes da abolição da escravatura, Padre Rolim, após a morte de seu pai, Vital de Sousa Rolim, herdou alguns escravos e alforriou a todos, dando exemplo cristão e de sabedoria e engajamento com os princípios da Revolução Francesa cujas conseqüências chegaram até os sertões áridos da Paraíba, em plena metade do século XIX.
Muito embora sejam casos isolados de exacerbação política e de profunda paixão partidária, não podemos e nem devemos aceitar manifestações deste tipo porque ferem de morte todas as nossas tradições cristãs.

E se a cidade de Cajazeiras, através do voto soberano do seu povo, chegar a eleger um afro-descendente como seu prefeito, ficará registrado nas páginas dos livros de ata da egrégia Câmara Municipal desta cidade com outras cores, com cores que não possam manchar nossa própria história, igual à de João do Couto Cartaxo que no dia 18 de agosto de 1872, foi assassinado a tiros de bacamarte, no dia da eleição de prefeito, a escreveu de vermelho, com o seu próprio sangue, em defesa desta cidade que amamos e queremos bem. Abaixo o preconceito. Viva a liberdade. Viva a democracia racial!


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

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Contato: [email protected]

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