Ridículos tiranos

Por Mariana Moreira – A semana traz como principal tema das rodas de conversas, das páginas e postagens midiáticas a posse do presidente norte-americano Donald Trump e, sobretudo, a série de medidas e atos presidenciais postos em execução e que, de forma clara e sem nenhuma pretensão de mascarar as intenções, revelam posturas autoritárias, reacionárias e, sobretudo, violentas. Medidas que trazem como alvos principais os milhares de imigrantes que, diariamente, fugindo da pobreza, das guerras imperialistas, das perseguições religiosas, culturais, políticas, tentam furar as barreiras severas da imigração e construir um mínimo de dignidade em suas vidas e de suas famílias.
Mas, o maior destaque foi a celebração, na Igreja Episcopal de Washington, como parte histórica dos rituais de posse, de culto presidido pela bispa Mariann Edgar Budde. Em sua pregação ela expõe, sem rodeios ou meneios, o que representa o recrudescimento de práticas e ações governamentais que trazem, como mote, a perseguição aos imigrantes, o desprezo pelos efeitos catastróficos do que já ocorre como decorrência do aquecimento global, o fim de políticas que promovam a igualdade de gênero e o respeito a diversidade. Aspectos que, na atualidade, não são mais meros argumentos de “esquerdistas radicais”, mas pautas e temas presentes no cotidiano de organismos, entidades, governos que temem o fim da espécie humana e do planeta terra por consequência das ações e práticas dos homens na construção de interesses econômicos que separam, distinguem, incluem e excluem a partir, sempre, da perspectiva do ter, e jamais, do ser.
A importância da pregação da bispa pode ser dimensionada na repercussão positiva que ela provocou, não apenas na ira do próprio presidente Trump, a tachando de “esquerdista radical”, mas na divulgação e nos comentários que sua fala desencadeou no planeta, trazendo o alento de que, mesmo sob o cambão mais severo da opressão e da tirania, a nossa voz pode ser farol para tantos desvalidos, lenitivo para tantos corpos lenhados pelas guerras, alimento para tantos seres esqueléticos e fragilizados pela fome física e espiritual.
A defesa de que os imigrantes não são bandidos para parte da sociedade humana é necessária. E que, nos Estados Unidos, atualmente, são a principal força de trabalho em diversas atividades econômicas, como a agricultura, os serviços de comércio e alimentação, os diaristas que estão limpando casas e banheiros, inclusive, de presidentes e seguidores.
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Ausente na fala da bispa somente a informação de que a quase totalidade dos imigrantes, sejam latinos, asiáticos, africanos, estão, via de regra, fugindo de conflitos, que, atiçados e/ou apoiados, direta ou indiretamente, por interesses norte-americanos e de aliados, tentam privatizar riquezas, dominar territórios, expropriar corpos e vontades, exclusivamente com a intenção de aumentar o poderia econômico e político.
E, nada mais oportuno que os versos do poeta Caetano Veloso:
Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Morrer e matar de fome, de raiva e de sede
São tantas vezes gestos naturais.
E a fala da bispa Mariann Edgar Budde ecoa, mais uma vez, na poesia de Caetano e entoemos:
Será que nunca faremos senão confirmar
A incompetência da américa católica
Que sempre precisará de ridículos tiranos.
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