Rosa Flor Mandacaru
Rosa Flor Mandacaru é personagem de um conto que comecei a escrever ainda quando era aluno do inativo Colégio Diocesano Padre Rolim, lá pelos anos de 1963, inspirado nas histórias da família de um colega de classe, cujo sobrenome era Mandacaru. Todos os dias prometo a mim mesmo que vou concluí-lo, mas o tempo vai passando e Rosa Flor Mandacaru continua povoando os meus sonhos, os meus desejos, as minhas lembranças e principalmente as minhas esperanças.
O que teria passado na cabeça de um pai no momento em que foi ao cartório para registrar a sua pequenina, bela e formosa menina com o nome de Rosa Flor Mandacaru? E o pai, Francisco José da Silva, é quem informa, começando pelo sobrenome: Mandacaru. Queria que a filha fosse a grande fêmea responsável pelo inicio de uma nova família com o símbolo mais forte do sertão árido do Nordeste, planta que as flores se abrem à noite. Rosa e Flor, sinônimos de beleza e encantamento, para perfumar a caminhada de sua vida.
Chico da Silva exibia a filha como um troféu colocado no meio de seu grande roseiral. Pleno de esperança educava a filha ao seu modo. Cresceu tomando banho de açude e trepando em goiabeiras e espalhava alegria no coração de todos que a cercavam.
Era chegada a hora de Rosa ir pra escola. No primeiro dia de aula, a professora de caderneta na mão começou a chamada e quando disse Rosa Flor Mandacaru e ela respondeu: presente! Todos os colegas se voltaram pra ela e com ar de espanto e susto deram uma sonora gargalhada. Foi preciso a intervenção da professora.
O espanto maior foi o de Rosa e se indagou do porquê de tanta admiração em torno de seu nome. Em casa narrou tudo ao pai, que a confortou, falando: quem faz o nome é a pessoa, com suas ações, verdades, atitudes, propostas de vida, postura diante da sociedade e acima de tudo externando amor e respeito ao próximo.
Rosa, um dia, se postou diante de um grande pé de mandacaru, em plena floração e já coberto de frutos avermelhados, iguais as suas avermelhadas bochechas. Ficou cheia de encantamento, mas pensativa com o que diziam alguns amigos com relação ao seu nome: você é igual a um mandacaru, não dá sombra e nem encosto. E realmente os grandes espinhos chegaram a impedir que colhesse um dos frutos. Foi mais um dia de muitas reflexões para a “iniciadora” da família Mandacaru.
Foi sendo educada, nas férias escolares, entre o gado e a seca, entre os banhos de açude e a casa de farinha, na escuridão da noite e a luz da lamparina, com o amanhecer e a cantata do vaqueiro aboiador já tangendo o gado para o pasto.
Como todo sertanejo que se preza seu Chico da Silva gostava muito, mas muito mesmo de política. E Rosa foi crescendo ouvindo as opiniões do pai, que sempre entre uma baforada e outra de seu cigarro de fumo de Arapiraca enrolado numa palha de milho, dava aulas sobre a arte de fazer política.
Rosa Flor em breve daria o maior orgulho a sua família: estava concluindo o curso de Normalista no colégio das freiras e para surpresa de todos foi escolhida oradora da turma e foi aí a surpresa maior: na hora da fala de sua fala Rosa Flor trocou o comportado discurso, já aprovado pelas freiras, por um outro que fez corar toda a platéia, cujo conteúdo tocava profundamente na corrupção, na roubalheira e na safadeza de muitos políticos, na questão do celibato na igreja católica, homossexualismo, libertação das mulheres, desemprego, analfabetismo, reforma agrária e o abandono dos nordestinos.
Rosa Flor foi ovacionada e carregada nos braços pelos colegas para desesperos das freiras, mas de muita alegria para seu Chico da Silva, que com seus botões pensou: minha menina parece que aprendeu a lição cedo de demais e Rosa Flor, nesta noite de gala, não foi motivo de gargalhadas quando seu nome foi pronunciado para receber o seu diploma e na naquele instante lembrou das palavras do pai: quem faz o nome é a pessoa. Espero um dia concluir o meu conto sobre Rosa Flor Mandacaru. Mas sinceramente este não é um nome muito diferente?
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