Saber calar: uma atitude profilática
A julgar pelo tema, não tratarei sobre procedimentos ou intervenções na área médica. Não tenho propriedade acadêmica e muito menos técnica. Mas penso, que as palavras, sendo elas de qualquer seara acadêmica, possam nos ajudar a pensar, a partir da sua etimologia, sobre os significados da vida ou os valores vividos em nosso cotidiano. As palavras são reveladores de significados, de universos semânticos inimagináveis. As palavras são rios correntes incontroláveis e sempre cheios de fecundidade simbólica. Às palavras foi dado o poder de encarnar-se em pessoas, em sentimentos, afetos, lugares, etc. Em muitos casos, apenas uma palavra aciona em nós verdadeiras viajens temporais ou atemporais, reais ou ilusórias. As palavras nos auxiliam na compreensão do universo da vida, dos costumes, das tradições e dos comportamentos.
Um certo dia, sem nenhum explicação possível e sem nenhuma relação causal com um fato ou uma pessoa, me saltou á memória uma palavra. É certo que eu já a conhecia, talvez por causa das vezes que eu tenha lido alguma bula de algum remédio. Não sei. Ou talvez, quem sabe, após ler aqueles panfletos que são entregues nas diversas campanhas de prevenção ou de conscientização. Não sei ao certo. Não consigo explicar a origem morfológico causal. Apenas, ela me saltou á memória de forma inesperada e silenciosamente. Veio sem fazer barulho e de mansinho foi se instalando. Quando caminhava pelo corredor da casa de um amigo, pensando em todas as famílias que naquela tarde eu havia visitado e em seus relatos de experiências pessoais que se diziam cansadas da vida, de Deus, de tudo. Daqueles que sentiam-se sem esperança e cansados da vida que levavam.
De maneira especial, lembrava-me de uma senhora, que por questões de sáude, não podia ir á Missa, algo que ela tanto amava fazer, mas suas pernas e coluna doíam muito e mesmo tendo realizado várias cirurgias, não sentia-se confortável para caminhar até á igreja. Infelismente, não eram tanto as dores que lhe impediam de ir a Igreja que lhe causavam tanto sofrimento. Mas sim, o julgamento dos “seus amigos” e vizinhos que de maneira debochada e irônica passavam em frente á sua casa e diziam: – “Rita, vamos para a Igreja!? – era como uma faca lhe cortando por dento. As pessoas lhe julgavam constantemente.
Pois bem. Lembrando de todas estas coisas, me saltava á memória a palavra: Profilaxia. Rapidamente me ví pensando e repensando sobre qual seja o seu significado. Mais que de repente, recorri ao novo Aurélio e fui folheando pagina por página até que encontrei a etimologia da dita cuja.
Profilaxia: “Do grego prophýlaxis (cautela). Medidas para prevenir ou atenuar doenças”.
Fiquei então á imaginar: Quais atitudes poderiam ter a característica profilática, evitando complicações médicas ou quem sabe até morais? Diante de tantas realidades, situações e pessoas, contextos e circunstancias, de que maneira poderia eu agir de forma que essa minha ação pudesse ter um qualificativo de cautela, precaução e bom senso? Quais medidas poderia eu tomar á prevenir ou atenuas graves realidades maléficas para mim ou para outros? Pensei e repense (…).
Então, me lembrei do que diz São Tiago: “Aquele que não peca no falar é realmente homem perfeito, capaz de refrear todo o corpo” (Tg 3,2). Percebemos aqui, que um dos maiores atos profiláticos possíveis ao homem seria o ato de domar e refrear a sua própria língua. Vai dizer o Santo, que se um homem consegue domá-la, conseguirá também controlar todo o corpo, ou seja, conseguirá domar a sí mesmo na sua totalidade. Ato profilático é sempre aquele em vista de evitar cautelosamente sempre um grande mal. Quantos são aqueles que com suas “línguas” tornam a vida tantos outros um inferno moral, justamente por coisas ditas e malditas. Quantas palavras proferimos contra outros que em nossa cabeça teriam somente “a intenção de ajudar”, quando na verdade o silêncio seria muito mais eficiente e evangélico.
Pelo visto, mesmo sendo um pequeno membro do corpo, a língua, ainda se apresenta como um dos maiores adversários do homem sapiens moderno; Sobretudo daqueles que a usam – a língua- com pretextos religiosos de exortação ou com prefigurações acadêmicas de quem tudo sabe. Em muitíssimos casos, torna-se válida a exortação de Tiago: “Mas a língua, ninguém consegue domá-la: è mal irrequieto e está cheia de veneno mortífero”.
Portanto, sempre ao querer falar do que julga saber ou do que efetivamente não sabe julgar, seria fundamental pensar na possibilidade de uma medida profilática milenarmente recomendável: Cale a boca!
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