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Edivan Rodrigues

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Segredos de Lula

19/12/2010 às 19h22

Há um mistério na relação entre Lula e Sarney. Lula se indispõe com aliados e companheiros, fecha a cara quando tocam em Sarney, sempre tratado a pão-de-ló. Agora mesmo, na transição para Dilma, Sarney foi premiado com dois ministérios: Minas e Energia (Edson Lobão) e Turismo, que vai para Pedro Novais. Quem? Pedro Novais, deputado maranhense há 20 anos, do qual nem a gente do Nordeste sabe quem é… Muito amor, sem dúvida, que trilha tortuosas articulações quando da composição das mesas dirigentes do Senado e da Câmara Federal, passa por consultas pouco republicanas, dizem, e também por rasteiras em desafetos. E até em leais companheiros.

Na eleição de outubro a relação escancarou-se em dois episódios. Primeiro, para eleger Roseana governadora do Maranhão, Lula e a cúpula de seu partido obrigaram a seção maranhense do PT a apoiá-la, muito embora o diretório estadual tenha-se manifestado a favor da coligação PT, PSB, PC do B, com Flávio Dino candidato a governador. Assim, praticaram um estupro político-eleitoral que gerou até greve de fome do histórico líder esquerdista Manuel da Conceição. Lembra-se o leitor? Resultado: Roseana venceu o pleito pelo insignificante percentual de menos de 0,5%! Ou seja, míseros 4.877 votos em mais de 3 milhões de votantes! Portanto, a intervenção de Lula no processo eleitoral do Maranhão salvou a oligarquia Sarney de uma derrota mortal.

Segundo, no Amapá, onde Sarney é senador desde que saiu da presidência da República, uma operação da Polícia Federal do tipo caça-ladrão, prendeu às vésperas do pleito um magote de gente, incluindo o governador-candidato à reeleição, desarticulando o esquema montado para derrotar a aliança PSB/PT. No Amapá, Lula se deu mal. O povo elegeu Camilo Capiberibe (PSB), governador, e os senadores: professor Marcos (PSOL) e João Capiberibe (PSB), ainda que este esteja sub judice, pois teve o mandato de governador (2002) cassado por influência de Sarney. Por quê? Porque Capi teria trocado votos por duas passagens ao preço R$ 26,00 cada! Mais tarde, ficou provado que testemunhas arranjadas forjaram a compra de votos…

Por que Lula trata Sarney assim? Quebro a cabeça, procuro nas entrelinhas, consulto amigos. E nada. Em recente jantar em Brasília, referindo-se a Sarney, Lula forneceu esta pista:

“Tenho a honra de ser seu amigo. Nunca ninguém vai conseguir nos intrigar. Pude contar com sua lealdade e seus conselhos nos momentos mais difíceis de meu governo.”

Mas o mistério continua. Lealdade a que princípios? Que conselhos? Teriam ocorridos em 2005, ano do mensalão?

Mistério. Recorri então ao mestre Graciliano Ramos. Em Memórias do Cárcere reli que o professor Castro Rebelo lhe ensinara que:

“Quando, na história do Brasil, lhe aparecer um fato inexplicável, procure a razão dele entre as coxas de mulher.”

Não. Também não é por aí, pensei. Difícil aplicar tal fórmula à relação entre Lula e Sarney. Não enxergo sequer sombra de mulher metida nisso. A menos que as artimanhas, engendradas pelo ardiloso combatente da velha UDN golpista da era Vargas, tenham nome de mulher.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

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