Seja homem, rapaz!
A cena até passaria despercebida, caso não ouvisse a frase enfática de uma mulher ao telefone: “seja homem, rapaz”. Considerei de início um pouco contraditório aquele posicionamento, mas depois indaguei: afinal o que é ser homem no sertão?
Crescemos em uma cultura essencialmente machista, marcada por estereótipos e muitos “pré-conceitos”. O macho de verdade tem que falar grosso, andar de perna aberta, cuspir e coçar “as partes” em público. Para reafirmar sua masculinidade deve possuir um repertório vasto e diverso de mulheres, sendo proibido demonstrar sensibilidade em quaisquer desses envolvimentos. Para alguns, isso também é ser homem e para os que não se enquadram neste vulgar perfil restam-lhes a sarjeta das acusações.
Assim, o moço que cuida da aparência, que aprecia música clássica, que não bebe, que não fuma, que não briga em festas populares: logo será gay. Confunde-se a própria questão biológica (sexo masculino) com a identidade de gênero – assunto que certamente poucos “machos” se interessam em conhecer. Não se pode desperdiçar tempo com frescura, com “coisinhas de mulher”. Arrumar a sobrancelha é pecado. Declaração de amor é expressão de corno. Beijar homem no rosto “cai a pinta”. O prazer da macheza apresenta-se na superioridade de determinar e de sempre ser aceito, independente de suas escolhas. É a sociedade patriarcal, alicerçada pelos preceitos da Santa Igreja, que ainda impera nos recônditos do sertão paraibano.
Ser homem, no entanto, em nada se relaciona a esses comportamentos lamentáveis. Ser homem incide em assumir responsabilidades, respeitar o outro, privilegiar a dignidade humana. Ser homem além de “ter palavra”, tem que exercitar a poesia do gesto. Ser em inteireza e emoção, fato que o macho saboreando seu cachimbo de desacertos encontra-se cego para compreender.
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