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Edivan Rodrigues

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Sobras de campanha eleitoral

11/02/2011 às 11h49

Poucos sabem do que se trata. Mas sobras de campanha existem. Os eleitores animam-se em comícios, passeatas, diante do guia eleitoral; festejam a vitória ou, derrotados, curtem a ressaca. Quase nada sabem, porém, a respeito da origem e destino do grosso dos reais que circulam em tempo de eleição, salvo de uns trocados caídos em mãos que seguram bandeiras nas esquinas ou no tanque de combustível de carros e motos nos dias de grandes mobilizações. Mesmo quem é do ramo desconhece pormenores dessas transações misteriosas. Misteriosas e sujas, que nascem e morrem no submundo da política. E deslizam para cofres de familiares e “laranjas”, atolados até o pescoço com os desvios de dinheiro alheio.

Desvios? Isso mesmo, desvio de rota, pois a grana fornecida aos chefes políticos locais em troca de voto deveria ser repassada para cobrir despesas efetivas de campanha. Pelo menos isso. Mas não é assim. Às vezes, engancha no bolso do chefe-intermediário. Essa parcela retida é, exatamente, a sobra de campanha. Ela some por uns tempos e aparece aos poucos em forma de carro ou lotes urbanos ou casa ou apartamento ou granja ou fazenda e boi no pasto. Ou como investimento ligado ao exercício profissional do felizardo, aquinhoado com polpudas somas pelos candidatos a senador, governador, deputado federal.

Ninguém sabe ao certo a fonte de tais gastos. Não sabe, mas desconfia. Murmura-se em mesa de bar, em caminhadas ou no papo da esquina. Só os beneficiários diretos, todavia, conhecem os caminhos desse dinheiro sujo, que, lamentavelmente, quase nunca se torna objeto de estudos de sociólogos, cientistas e analistas políticos. Dele, do dinheiro sujo, tratam o Ministério Público e outros órgãos, a mídia, num ou noutro caso escandaloso que emerge na crista de “sinais exteriores de riqueza”. A fiscalização tem melhorado muito, justiça se faça, ajudada por entidades da sociedade civil afeitas ao balizamento democrático de práticas políticas sadias. O eleitor, coitado, vira palhaço, inebriado pela vitória dos preferidos do chefe ou, no outro extremo, curte a ressaca da derrota de seus candidatos.

Em 2010, as sobras minguaram na Paraíba. Dizem. A coligação encabeçada por Ricardo Coutinho mobilizou pouco dinheiro, sendo ele próprio um cidadão de classe média, sem tradição de gastador, sem amigos abastados dispostos a socorrê-lo. Do outro lado, fala-se da mão fechada de José Maranhão, muito embora em 2010 tenha sido diferente, asseguram atentos observadores com ciência empírica das artimanhas de nossa vida política…

Entre esses observadores há unanimidade: 2010 foi “ano de seca”, quase sem sobras de campanha. Ao contrário, restaram elevadas dívidas de campanha. Talvez por isso, jornais, impressos e eletrônicos, blogs, emissoras de tevê e rádio divulguem, nete começo de 2011, tantas matérias sobre falta de dinheiro nas prefeituras paraibanas para pagar em dia salários de funcionários, saldar débitos junto a fornecedores, associações beneficentes, empreiteiros de obras e serviços públicos. E haja insatisfação, choro e ranger de dentes…
 


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

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