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Damião Fernandes

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Sobre a Arte do Bom Morrer

27/10/2008 às 13h05

Quem não sabe o que é a vida, como poderá saber o que é a morte? (Confúcio)

A morte sempre foi uma das grandes questões da humanidade. Sempre cheia de medos, curiosidades, mitos e lendas, a morte e o morrer trazem em si uma mistura de mistério e sacralidade. Talvez você esteja se perguntando: Por que tratar desse assunto? É falta de um outro mais atraente?.Confesso que por muito tempo tive medo da morte, mas hoje um pouco menos. Admito que essa é uma das muitas realidades que precisam da intervenção de Deus sobre minha mentalidade. Eu não queria morrer. O que na verdade me causa espanto não é a morte em si, mas sim, o que ela não me permitirá mais viver ou onde ela me levará… – Gostaria que muito que fosse para céu, mas ainda não sei – o que trago em mim é que a morte é uma certeza enquanto realidade existencial e a eternidade é uma busca constante enquanto realidade teológica.

Antes de continuar a escrever sobre este tema, gostaria de  deixar bastante claro, que não tenho a pretensão de que este artigo seja lido ( muito menos postado comentários). Apenas escrevo por uma motivação pessoal e terapêutica. Preciso transpor em mim a barreira do “desconhecido” e do contraditório. Se for possível…

O ser humano é ser de contradições, um ser de antagonismos existências, que no decurso de sua vida essas experiências se tornam mais acentuadas. A morte para o homem representa o símbolo mais visível desses antagonismos: Vida x Morte, Tempo x Eternidade. Presente x Passado… Noite x Dia… A morte é lugar onde o enigma da condição humana atinge o seu ponto mais alto.

Fomos criados por Deus com uma sede imensurável de eternidade. Nascemos para sermos eternos. Quando os pais dão nomes aos seus filhos, está representado aí o desejo de eternidade. Quando em nossas festas de aniversários, casamentos, conclusão de curso queremos as melhores fotos, os mais lindos álbuns, está simbolizado aí o anseio de sermos eternos, perdurarmos até a mais vindoura geração. E a morte nesse contexto causa como que uma ruptura existência para quem morre e uma ruptura psíquica para quem permanece. A morte provoca uma coalizão entre o nosso Já e o Não mais.

Para vivermos bem, será preciso aprender a arte de morrermos bem. E o que seria morrer bem? Em que consiste a arte de morrer? Há um poeta que diz que nós morremos cada dia um pouco. Então eu diria que a arte do bom morrer consiste em você descobrir múltiplas formas de viver bem. Encontrar inúmeras maneiras de extrair da vida, aquilo que ela tem mais sublime e divino a revelar. A arte do bom morrer acontece quando a arte da vida se torna reveladora a cada instante. Quando na convivênia com os verdadeiros amigos, junto de quem se sabe que nos ama sem nenhum interesse, amando os outros com todas as nossas possibilidades, descubro sentidos e valores absolutos e divinos.

Encontrar a arte de morrer bem é encontrar a seiva da vida, a vida vivida em sua plenitude e abundância. Morre-se bem quem vive bem. Viver bem. Saber viver bem o dia de hoje com qualidade e coerência de consciência é o maior desafio para aqueles crêem em Deus (e aqui me incluo) como também para aqueles que em nada acreditam.

A "Imitação de Cristo" nos ensina: "Em todas as tuas ações, em todos os teus pensamentos deverias comportar-te como se tivesses de morrer hoje. Se tua consciência estivesse tranqüila, não terias muito medo da morte. Seria melhor evitar o pecado que fugir da morte. Se não estás preparado hoje, como o estarás amanhã?" 

E São Francisco de Assis, no "Cântico das Criaturas", assim rezou:
"Louvado sejais, meu Senhor, por nossa irmã, a morte corporal, da qual homem algum pode escapar. Ai dos que morrerem em pecado mortal, felizes aqueles que ela encontrar conforme a vossa santíssima vontade, pois a segunda morte não lhes fará mal." 

Aprendamos a viver bem e assim aprenderemos a bela arte de morrer bem. 

Para saber mais

BLANK, Renold. Escatologia da Pessoa. Vida, morte e ressurreição. SP: Paulus, 2000.
BOFF, Leonardo. Vida para além da morte. Petropolis: Vozes, 1973.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

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