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Edivan Rodrigues

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Utopia e a política de Cajazeiras

01/07/2012 às 22h23

Semana passada, citei neste espaço, em crônica dedicada à cantora paraibana Socorro Lira, um singular conceito de utopia, que agora retranscrevo: “A utopia está no horizonte. Dou um passo, ela se afasta de mim. Dou outro passo e ela, novamente, se distancia. Então, para que serve a utopia? Para isso, para caminhar.” Assim mesmo, “entre aspas”, sem indicar o autor. Por isso, fui cobrado por um leitor exigente. Na verdade, eu tinha dúvida a quem fornecer o crédito autoral. Minha filha adolescente, Maria Eduarda, pescou em programa literário na internet que o escritor uruguaio Eduardo Galeano atribuíra aquelas frases ao cineasta argentino Fernando Birri. Galeano presenciara o momento da entrevista, na cidade colombiana Cartagena das Índias, quando o cineasta as teria pronunciado em tom coloquial, ao ser perguntado pelo repórter. Mesmo assim, mantive a dúvida até porque há outras versões, todas elas, porém, com o mesmo sentido, a exemplo desta:

“A utopia está no horizonte. Me aproximo dois passos e ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isto: para que eu não deixe de caminhar.”

Não estamos, portanto, diante de nenhuma construção filosófica bem elaborada por cientista social enfronhado em teorias acadêmicas, após demoradas elucubrações e debates entre seus pares. Nada disso, Fernando Birri é um velho militante das lutas sociais no mundo, tido como o pai do novo cinema latino-americano. Fundou e dirigiu escolas de cinema e televisão em sua terra natal, Santa Fé, e, mais tarde, também em Cuba, firmando-se em visão contraposta à cinematografia de interesse meramente comercial, praticada nos grandes centros capitalistas, sobretudo nos Estados Unidos.

Como se pode deduzir, Fernando Birri é, ele próprio, um ser em busca de sua utopia, desde sempre. Ele já se aproxima dos 90 anos de idade. Ao longo desse tempo correu o mundo. Foi além, muito além de La Mancha, a invenção literária de Cervantes, até se fixar em Roma sem, contudo, olvidar jamais suas raízes geográficas, embalando sonhos de muitos africanos, asiáticos e latino-americanos. Há seis anos, Fernando Birri participou em Fortaleza do Festival de Cinema do Ceará para apresentar seu filme “Mi Hijo el Che”. Ali, Birri se comparou aos “antigos caixeiros-viajantes”, a vender imagens que carrega no baú. Foi do mesmo baú que sacou as frases citadas para definir utopia.

-E a política de Cajazeiras? Ah, os políticos de Cajazeiras… Continuam feito peru, glu-glu, glu-glu, gorgolejando de um quintal a outro. Ora pra lá, ora pra cá. Se dependesse deles, Cajazeiras não sairia do lugar. Mas, graças a Deus, Cajazeiras não depende deles para desenvolver-se. Vota neles, é bem verdade, mesmo vendo-lhes o nariz crescer a cada fala: blá-blá-blá, blá-blá-blá. Enquanto isso, o Palhaço Bolinha, agora ao lado de Deus, ri à beça e enxerga em cada eleitor cajazeirense um rosto pintado, o nariz com uma bola vermelha, igual a mim, deve dizer Bolinha, tudim, tudim igual a mim…

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

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