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Temer diz que é constrangedor ser citado em delação, mas nega novamente ter discutido propina ao PMDB em encontro

O presidente disse ter primeiro publicado uma nota oficial e depois postado um vídeo nas redes sociais para rebater a acusação do delator.

Por Priscila Belmont

16/04/2017 às 18h00 • atualizado em 16/04/2017 às 12h25

Michel Temer (Foto: Lula Marques / Agência PT)

O presidente Michel Temer disse considerar “muito desagradável” e “constrangedor” o fato de, sem ter qualquer “mancha” em sua carreira a essa altura da vida, ter sido citado por um delator da Odebrecht como o responsável por comandar uma reunião na qual teria sido discutido um pagamento de propina no valor de 40 milhões de dólares para campanhas do PMDB no ano de 2010, época em que presidia o partido e, então presidente da Câmara, candidatou-se a vice na chapa da petista Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto.

Em entrevista veiculada no sábado pela TV Bandeirantes, Temer confirmou ter participado do encontro com Márcio Faria, ex-presidente da Odebrecht Engenharia Industrial, marcado a pedido do então deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). No entanto, ele negou mais uma vez ter tratado de quaisquer valores na reunião – ocorrida no dia 15 de julho daquele ano no escritório político de Temer em São Paulo e que ele disse ter chegado atrasado.

“Não tratamos absolutamente de nenhuma questão de valores, nada disso, porque o objetivo central não era esse. Ele (Márcio Faria) iria me cumprimentar para mostrar que ele iria eventualmente ajudar na campanha, mas só isso”, disse. “Eu não sabia de valores, não se falou de contratos evidentemente, não se falou de nada, foi uma coisa que me caceteou muito”, completou.

A negociação sob suspeita refere-se a um contrato de 825 milhões de dólares para a manutenção de ativos da Petrobras em nove países, que foi vencido pela Odebrecht por meio de fraude no processo licitatório, segundo o delator, a quem 40 milhões de dólares seriam repassados em propina ao PMDB.

O presidente disse ter primeiro publicado uma nota oficial e depois postado um vídeo nas redes sociais para rebater a acusação do delator “mais por uma razão pessoal”, por achar desagradável para quem está na vida pública por tanto tempo quanto ele ter de ouvir um depoimento desse – desde quarta-feira, o Supremo Tribunal Federal (STF) divulgou a íntegra dos vídeos com as acusações feitas pelos colaboradores premiados.

Temer contestou a fala de Márcio Faria, a quem não nomeou na entrevista e classificou as declarações dele de “muito impróprio”, “arrevesado” e de “pouca consistência”. Disse que ele até mencionou a presença de pessoas que teriam participado do encontro que, segundo o presidente, não estavam em seu escritório político na ocasião.
O presidente não teve um pedido da Procuradoria-Geral da República para ser formalmente investigado pelo STF por esse e outro episódio a partir de delações da Odebrecht por ter uma imunidade temporária prevista na Constituição que o impede de responder no exercício do cargo por fatos anteriores a ele.

Indignação
Na entrevista, Temer disse compartilhar da “indignação” da população diante do fato que a lista da Odebrecht envolve muita gente no Congresso, ex-presidentes, governadores e classificou essa queixa não só razoável como “legítima”. “É quase, vamos dizer assim, assustador, as pessoas leem aquilo e dizem: meu Deus, como é que o Brasil está sendo governado?”

Mesmo com oito ministros alvo de inquéritos no STF em razão de delações da Odebrecht, o presidente disse que vai manter o padrão estipulado em fevereiro segundo a qual só vai afastar preventivamente os titulares do primeiro escalão se eles forem alvo de denúncia. Observou, contudo, que pode ocorrer de os próprios ministros se sentirem desconfortáveis com a situação e quererem deixar o governo. “Acho que é uma linha de corte compatível com o sistema jurídico”, disse.

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