A décima quarta Cartaxada

Por Francisco Frassales Cartaxo – A reunião foi em Aldeia no último final de semana, com 100 pessoas, pequena parcela da enorme família Cartaxo. Que parcela? Metade dos descendentes de Isabel Sales de Brito e Cristiano Sobreira Cartaxo Rolim. Este, bisneto de Joaquim Antônio do Couto Cartaxo, um português que deixou 14 filhos e filhas, nascidos de dois casamentos com duas Rolim, parentes próximas do padre Inácio de Sousa Rolim. Joaquim Antônio chegou apenas com o Couto no nome. O Cartaxo ele acrescentou quando se casou na povoação de Cajazeiras.
– Oxente, tio, então ele inventou o nome de nossa família?
Quase isso. Cartaxo é a pequena vila onde ele nasceu, perto de Lisboa. Muito jovem, desembarcou no porto do Recife, foi mascateando até esbarrar no sertão do Rio do Peixe. O mascate vivia suspirando: ai que saudade da terrinha d’além mar… oh minha Cartaxo.
Lá vem o homem do Cartaxo, diziam do terraço quando ele apontava na estrada. Então, ele resolveu eternizar seu sentimento d’amor carregando consigo a saudade aonde ia.
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– O senhor, tio, é feito ele… pra onde vai carrega Cajazeiras!
Herança de amor e saudade… mas vamos em frente.
A primeira Cartaxada não tem número. Foi precursora. Em 1971, filhos e filhas de Cristiano e Isabel decidirem comemorar os 50 anos de casados dos velhinhos, em Cajazeiras, onde todos nascemos. Éramos onze, o 12º, Evangelista, viveu apenas seis dias. Todos estávamos presentes, até minha primogênita nos braços da mãe.
Passados os anos, vendo as fotos de 1971, meu filho Marcelo, ainda adolescente, teve a ideia de reunir aquele mundão de gente, a maioria nem se conhecia! Conversa vai, conversa vem, nasceu a primeira Cartaxada, em 1989, em Cajazeiras, para nós o centro de tudo, onde moravam vovó Belinha, já viúva, com 85 anos, e quatro de seus filhos. Depois vieram as outras.
A pandemia atrapalhou um pouco.
No último final de semana ocorreu a 14ª Cartaxada, a terceira nos arredores do Recife. As demais aconteceram, 3 em João Pessoa, uma no Brejo das Freiras, 3 em Fortaleza, 2 em Salvador, uma em Natal. Os encontros se sucedem sem muito protocolo, porém, dão muito trabalho para organizar. São meses de dedicação, a cidade eleita com antecedência para cuidar-se dos preparativos. Hoje em dia, o grupo no WhatsApp, com participação voluntária, facilita muito e o pix… ah o pix, mais ainda!
Outra coisa, Cartaxo somos todos.
Casou-se no papel, se uniu em vida comum, até “amancebado”, como ameaçaria Frei Damião, vira Cartaxo! E ganha, não o reino dos céus, mas um ambiente no qual há beijos, abraços, presentes, xingamentos, brigas, brincadeiras! Histórias reais e inventadas abundam. Existem ainda lágrimas de dor, alegria, amor e morte.
Após cada Cartaxada a saudade aperta.
Aí a gente aguarda a próxima, desta vez, em Salvador, minha segunda terra, onde estudei, comecei a trabalhar, ensinei, fiz farras enormes. Aprendi a amar, casei-me pela primeira vez. É assim, mal cheguei de Aldeia, já penso na XVª Cartaxada!
Sócio da Academia Cajazeirense de Artes e Letras
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