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Francisco Cartaxo

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Padre Inácio Rolim e Ibiapina

02/08/2025 às 21h50

Padre Rolim

Por Francisco Frassales Cartaxo – Inácio de Sousa Rolim e José Antônio de Maria Ibiapina foram contemporâneos, um nasceu em 1800, o outro em 1806. Ibiapina faleceu em 1883, aos 77 anos, lúcido, mas locomovendo-se em tosca cadeira de rodas, transportado pelos amigos, em Santa Fé. Padre Rolim morreu com quase 100 anos, sem plena consciência do que se passava a seu redor. Mesmo assim, magrinho, visitava as casas pedindo a seus donos: coloquem seus filhos na escola pra estudar. Isso falava pai que, aos 12 anos, esteve no velório de nossa maior figura.

Inácio viveu quase sempre em Cajazeiras, saindo daqui vez ou outra. Ordenado em Olinda, pouco se afastou de Cajazeiras, preparando jovens, sobretudo da elite sertaneja, para serem letrados, padres, doutores. Recusou convite para chefiar a Instrução Pública da Paraíba, o mais relevante cargo nas províncias do Império abaixo do governador, ombreado ao Chefe de Polícia. Mesmo na Igreja, padre Rolim não exerceu sequer a função de vigário que, em sua época, tinha forte dimensão política quando a Igreja se vinculava ao Estado. Vigário/deputado era muito comum, como ocorreu com padre José Antônio Marques da Silva Guimarães, vigário de Sousa, grande chefe político na Ribeira do Rio do Peixe.

E padre Ibiapina?

Provou de tudo um pouco. Ainda menino, foi com a família de Sobral para Icó, o pai nomeado escrivão público, depois no Crato. O filho foi estudar com um latinista em Jardim. Do Ceará para o seminário de Olinda, matriculando-se em novembro de 1823, onde já estava Inácio. Mas Ibiapina só ficou 35 dias porque a mãe faleceu. Então voltou para Fortaleza.

Aí começou o inferno de Ibiapina.

Em maio de 1825, o pai foi fuzilado na futura Praça dos Mártires. O irmão mais velho, preso em Fernando de Noronha, morreu de maus tratos. Por quê? Os dois se alinharam aos patriotas que lutavam contra dom Pedro I e instalaram a precária República do Equador. Um cunhado foi assassinado em outubro de 1825, deixando viúva a irmã mais velha com dois meses de casada! Com os bens materiais confiscados, a família caiu em extrema pobreza.

Ibiapina retorna ao Recife com as irmãs órfãs. Tenta refazer sua vida. Volta ao Seminário, matricula-se na recém-criada Escola de Direito de Olinda, onde concluiu seu curso na primeira turma. Torna-se professor, juiz e chefe de polícia em Quixeramobim, deputado geral na Corte, advogado brilhante! Conhece o poder. Podres poderes! Nada o seduz. Ao contrário, tem nojo! Ibiapina quer servir ao povo pobre de verdade. Recolhe-se, reflete muito. Enfim, toma a decisão mais desafiante de sua vida: quer ser padre. Aos 47 anos! Vai missionar pelos ermos do semiárido, funda 22 Casas de Caridade em cinco estados, até falecer numa delas em Santa Fé.

Depois de muitos anos, a Igreja reconhece que por sua luta Ibiapina merece ser santo. Os dois primeiros degraus decisivos, ele já subiu. Em Roma segue o rigoroso processo de santificação. Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Sócio da Academia Cajazeirense de Artes e Letras.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

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