A essência da entrevista de Jarbas
Francisco Cartaxo
Parece que Fernando Henrique voltou a ser sociólogo militante, agora com viés de estrategista nada acadêmico. Alguns sinais já vinham sendo emitidos nesse sentido. Este ano, porém, tornaram-se fortes e iluminaram o cenário que, de repente, foi invadido por atores em cenas bem articuladas: a entrevista de Jarbas Vasconcelos à revista Veja e sua orquestrada repercussão; a decisão informal do PSDB de adotar prévias para escolher o candidato a presidente da República; a representação formal do DEM contra Lula por suposto uso da máquina pública a serviço de possível candidatura de Dilma Rousseff; e o discurso de José Serra contra o Bolsa Família na linha da crítica feita por Jarbas. Nada disso é coincidência. Ao contrário, é articulação amadurecida em longas reflexões em círculos oposicionistas restritos, com a marca de FHC, que, em última instância, visam impedir a construção da candidatura de Dilma à presidência da República.
O senador do PMDB disse o que todos falam à boca pequena. Acusar os políticos de corruptos é tão velho quanto as travessuras da Marquesa de Santos para receber propina nas barbas de dom Pedro I… Ah, mas dito por Jarbas é outra coisa! No bojo das interpretações à fala de Jarbas seu passado político aflorou com vigor para respaldá-la e nesse transe a maioria dos comentários incorporou o vício do maniqueísmo. Jarbas quase vira santo, sua história de luta a servir de purificação. Exaltaram nele o gestor competente, o incorruptível, modelo de coerência, o corajoso navegante em céu azul. À imagem só faltou a lança na mão do Dom famoso…
Não é bem assim. A trajetória de Jarbas Vasconcelos exibe singularidades de fazer inveja a muita gente, mas não a ponto de imunizá-lo dos vícios por ele atribuídos à maioria de seu partido, o PMDB. Coerência? Bom, aqui ninguém escapa. (Nem o leitor, muito menos o articulista). Jarbas tampouco. Basta recordar a história recente de Pernambuco, quando ele rompeu com Miguel Arraes, transformando-o em inimigo, para aliar-se às forças contra as quais lutara na época da ditadura. E então com elas governou seu Estado, ajustando-se ao modelo de gestão pública que tanto condenara.
Talvez a essência da entrevista que Jarbas concedeu à Veja se encontre nesta afirmação: “é um erro subestimar a força de Lula e a capacidade de Dilma como candidata”. Aí se encaixa a menção ao assistencialismo do Bolsa Família, considerado por ele como “o maior programa oficial de compra de votos do mundo”, desprezando sua institucionalização que envolve todos os entes federados, sobretudo, os municípios, as prefeituras incumbidas da tarefa de inscrever os beneficiários. Repito, todas as prefeituras, sem exceção, sendo o prefeito aliado ou não do Planalto. Jarbas sabe que o maior instrumento de compra de votos esconde-se nos contratos de grandes obras e serviços públicos com empreiteiras. E deles os pobres não participam. Jarbas sabe melhor do que ninguém. Por tudo isso, FHC deve estar rindo à toa.
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
Leia mais notícias no www.diariodosertao.com.br/colunistas, siga nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram e veja nossos vídeos no Play Diário. Envie informações à Redação pelo WhatsApp (83) 99157-2802.
Deixe seu comentário