Nossa tirania

Por Mariana Moreira – Onde nascem os tiranos?
Uma questão que, epistemologicamente, pode nos levar a reflexões tantas que transitam em áreas sociológicas, filosóficas, políticas distintas, mas interconectadas, pois, trazem como sedimento e base a vivência dos homens em suas relações cotidianas do viver e sobreviver enquanto espécie.
E, como ser pensante que produz conceitos, que separa pelo ter e pelo não ter, que distingue pela cor da pele, pelo gênero, pelo sotaque, pela geografia, os homens foram se tornando espécie distinta e exclusiva, produzindo a compreensão de superioridade sobre o resto da natureza e sobre outros semelhantes que, política e culturalmente, destoassem e destoam de sua “aparência e essência”.
Assim, as diferenças históricas passam a ser ensinadas, interpretadas e repetidas como naturais.
LEIA TAMBÉM:
Como natural é a superioridade de grupos que, possuidores de bens e posses, conquistados, historicamente, pelo uso da força, de tramas ardis, de conchavos e artimanhas, arvoram-se no direito de determinar vontades, de imprimir desejos, de impor comportamentos e ditar normas, falas, leis, regras de viver e conviver.
O exercício do poder de governar e legislar nasce, assim, desse contexto. Um contexto que, no curso da história e da vivencia cultural, vai se transformando e, em determinados momentos e processos, assumindo feições mais ou menos flexíveis, dependendo do grau e do nível de organização, pressão e forças dos grupos humanos que se produzem e se reproduzem nestes contextos.
Assim, questões, conflitos, tensões vão surgindo e, no curso do processo histórico, se ressignificando e construindo soluções, que, no cotidiano da vivência entre seres e grupos, se alinham e se consolidam em tratados, práticas, normas, regras, falas, ditos e escritos que, nas entrelinhas, refletem a superioridade e a marca do vencedor. Mas, na aparência, se anunciam como comuns a todos que devem segui-los e obedece-los em nome da convivência e da harmonia entre “iguais”.
Exorbitar dessas regras de convivência, para os vencidos, é transgressão passível de severas penalidades.
Para os vencedores, apenas e tão somente deslizes e pequenos desvios naturais e facilmente corrigidos com os aplausos necessários ao ato.
Seriam tiranos?
Não sei.
Apenas, sigo o poeta, pois,
Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Morrer e matar de fome, de raiva e de sede
São tantas vezes
Gestos naturais.
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
Leia mais notícias no www.diariodosertao.com.br/colunistas, siga nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram e veja nossos vídeos no Play Diário. Envie informações à Redação pelo WhatsApp (83) 99157-2802.

Deixe seu comentário