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Mariana Moreira

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A história como negócio

30/08/2025 às 18h34

Coluna de Mariana Moreira

Por Mariana Moreira – Como a história pode ser uma importante ferramenta de incremento do desenvolvimento de uma localidade?

A pergunta pode parecer descabida e, mesmo, estapafúrdia.

Mas, quando pensada de forma sensata e, sobretudo, séria e consequente, ela traduz uma concreta possibilidade de aliança entre as vivências humanas, os artefatos e engenhos produzidos nesse processo e os sinais e vestígios que esse vivenciar deixa fincado em memórias, construções, documentos, monumentos, lembranças.

Essa inquietação me assalta, mais uma vez, nestes dias de celebração, em Cajazeiras, do aniversário de nascimento do Padre Rolim, que, num equivoco histórico, passa a ser celebrado como data de emancipação política do município. Em conversas com o padre Francivaldo Albuquerque, sou instigada a responder se conheço o casarão do Coronel Peba?

O coronel, que ostenta, inclusive, a reverência de ser nome de rua da cidade, goza, na mesma proporção, do ostracismo e do esquecimento. O velho casarão, na zona rural do município, sofre a impiedosa ação do tempo que, associada a omissão humana, abre largas frestas para a ação de vândalos, cupins, vegetação que, no ritmo da natureza, cresce entre parede rachadas, tetos carcomidos, portas e janelas deterioradas.

E como o Coronel Peba outros personagens e eventos que, se valorizados como elementos compositores de nossa história, poderiam ser indicados como ferramentas e engenhos de promoção de atividades turísticas, estão abandonados e/ou esquecidos.

Essa região teve, desde o início do século vinte, a forte presença, em seu cotidiano, dos bandos de cangaceiros. Como o bando de Luís Padre que, ainda em início dos anos de 1920, marcou essa região com episódios que construíram memórias e relatos ainda hoje narrados em momentos tantos. No atual município de Cachoeira dos Índios, Luís Padre “capou” Justino Neco e raptou, mantendo como refém, por um período de dois meses, em andanças e incursos pelos sertões nordestinos, a senhora Isabel, mulher de Osório. Um episódio que, desde a minha mais tenra infância, fez parte de minhas histórias de ninar. Isabel e Osório eram padrinhos de batismo de meu pai e, em quantas bocas de noite não me embalava a música por ele cantada ou assobiada:

O riacho do Cipó
Já encheu e já secou.
A mulher de Seu Osório
Luiz Padre carregou.
Moça bonita, cor de canela,
Seu Osório ficou sem ela.

Pensemos, então, em quão produtivo seria termos como atividade cultural e, assim, econômica, uma rota explorada das trilhas do cangaço nessa região. Uma rota que agregaria o ataque de Sabino a Cajazeiras, as visitas e narrativas dos casarões e edificações dos coronéis que, em tantos momentos, se confundiam com os cangaceiros.

Fica a dica.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Mariana Moreira

Mariana Moreira

Professora Universitária e Jornalista

Contato: [email protected]

Mariana Moreira

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