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Mariana Moreira

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A quem interessa meu voto?

24/10/2014 às 15h36

Qual relevância tem o meu gesto de ir a uma seção eleitoral e escolher o presidente da República? Uma pergunta que, neste domingo, deve cutucar nossa consciência quando, em um momento de paixões e ardores políticos exacerbados nos deparamos com o desfecho de mais uma campanha eleitoral para a escolha do próximo presidente. O meu voto e o meu gesto em ir à urna e escolher um candidato não têm significância quando o situo num plano isolado, individual, em que priorizo e valorizo posturas pessoais, valores e necessidades próprias e, sobretudo, quando inverto os cânones republicanos e democráticos e exerço o meu voto como arma de conquista individual de privilégios e benesses.

A pergunta perde sentido ainda quando oriento minha atitude e minha postura de votar por trilhas e entendimentos que associam o gesto político a uma preferê4ncia estética movida pela beleza, pela plasticidade egoísta que separa belos e feios, exaltando os primeiros como merecedores de todos os louros e tributos, e desqualificando os segundos como determinados a inferioridade, a mediocridade, ao preconceito. O sentido do voto se esgarça ainda nas tramas dos jogos e ardis que, orquestrados por grupos e forças políticas reacionárias, prepotentes e retrógadas, aliam o gesto da escolha eleitoral a uma dependência cultural, política e, em muitos momentos, material. Dependência atrelada a um colonialismo midiático que carteliza as informações e ressignifica a importância dos eventos e das ocorrências a interesses manipulados e, em muitos momentos, inventados em gabinetes e ilhas de edição que valorizam determinado enfoque, positiva determinado ângulo, diviniza determinadas figuras. 

Ao mesmo tempo, laboratórios midiáticos que também demonizam aqueles que ousam situar-se numa dimensão contrária aos seus interesses. Uma orquestração midiática que transforma a vida em espetáculo, escolhendo quais atores rompe seu procênio e assumem a cena principal do tablado, deixando nas coxias e nos subterrâneos, as vozes e as intencionalidades destoantes que ameaçam convertem a festa em fantasmagoria, enfeitando o cenário com suas demandas de fome, de saúde, de alimentação digna, de educação, de terra para o trabalho, de casa para a moradia, de dignidade para as mulheres, de identidade para índios, negros, gays, lésbicas.

A pergunta que inquieta nossas mentes no momento da eleição não pode prescindir de nossa capacidade de autonomia e vontade diante de nossos próprios atos presentes. Mas traz também a repercussão de que nossas ações na digitação dos números que identificam os candidatos estão assumindo um compromisso com o devir, com o que estar além do nosso instantâneo. Somos responsáveis, hoje, quando escolhemos o presidente da República, por sonhos e perspectivas de vida que ainda estão no limbo do amanhã. Se iremos herdar para esse devir a justiça ou a presunção. Se iremos tributar para este amanhã, a dignidade ou a sujeição que humilha e desqualifica o humano.

Uma pergunta simples, mas que tem desdobramentos pertinentes. Vai oscilar no ritmo de nossas decisões e convicções. 

Bom voto e oriente seu gesto por essa pergunta: o que meu voto vai fazer na vida de milhões de brasileiros.

Mariana Moreira

Mariana Moreira

Professora Universitária e Jornalista

Contato: [email protected]

Mariana Moreira

Mariana Moreira

Professora Universitária e Jornalista

Contato: [email protected]

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