Bosco Barreto: o farol da resistência democrática

Por José Antonio – Quando ingressei na Universidade Católica de Pernambuco, em 1968, Bosco estava concluindo o seu Curso de Direito, e tive a oportunidade, por inúmeras de vê-lo, em cima de um banco de cimento, no hall da Católica, fazendo discursos inflamados contra o sistema instalado no Brasil, em 1964.
No dia 13 de dezembro de 1968, ele como orador da turma, fazia seu último discurso como universitário. Desde então, quatro anos depois, nos encontrávamos em Cajazeiras já como candidato a prefeito, em 1972, em uma campanha iniciada com os pés calçados numa sandália “japonesa” e com um slogan que encantou multidões: “meus irmãos, minhas irmãzinhas também”!
Ando em busca de um depoimento que meu pai prestou no comando do Exército, em Recife, intimado que foi, para produzir provas contra Bosco, conhecido por sua luta por melhores condições de vida para a população sertaneja. E meu pai, por diversas vezes, atendeu ao apelo de Bosco, para fornecer alimentos para os famintos da seca. E o comerciante Francisco Arcanjo de Albuquerque, sempre atendeu aos apelos de Bosco.
Perante os inquisidores, as respostas de meu pai, quando muitos pensavam na reprovação das ações de Bosco, foi tudo ao contrário, ao fazer uma defesa veemente dele, dando o exemplo dele próprio, como cassaco na seca de 1932, aos 12 anos de idade, a cada 15 dias, pelos trabalhos realizados na construção de estradas e no Açude de Piranhas, ganhava uma feira para alimentar sua mãe, que era viúva e uma irmã. Este homem, falou meu pai: “tem feito um bem enorme ao povo do sertão e quando seus apelos às autoridades não são atendidos, ela tem se valido do comércio da cidade, dentre eles o meu e venho doando farinha arroz, rapadura e feijão para o movimento que ele faz”.
Um dos grandiosos movimentos empreendido por Bosco, em Cajazeiras, que impulsionado pela abertura política e o projeto de redemocratização do país, fez vir a Cajazeiras, Ulisses Guimarães, em campanha pelas Diretas Já, que em carreata pelas ruas da cidade, até a Praça Camilo de Holanda, onde foi realizado um ato público em apoio ao projeto de redemocratização, que pedia o fim da ditadura a realização de eleições diretas para presidente.
Neste dia 17 de junho, completa 23 anos de sua morte, do lendário Bosco Barreto, um cajazeirense que fez história e marcou a política do estado nas décadas de 70 e 80. Destemido, corajoso, irreverente, bom orador, acusado de ser comunista e agitador. Era um místico religioso e liderou uma romaria a Juazeiro do Norte, para agradecer os votos que recebera nas eleições para prefeito, mesmo tendo sido derrotado.
Ele foi leito deputado estadual em 1974 pelo então Movimento Democrático Brasileiro (MDB), foi também suplente do senador eleito, Humberto Lucena. Em 1981 ele chegou a ser preso pela Polícia Federal acusado de ser subversivo e agitador, com base na Lei de Segurança Nacional, mas após grande repercussão foi liberado e aclamado em sua terra natal.
Nascido e criado em nossa cidade, Bosco tornou-se advogado e, desde cedo, um combatente incansável pelas causas populares. Nos anos de chumbo da ditadura militar, que se instalou no país em 1964, sua voz destemida ecoou no Alto Sertão paraibano, um farol de resistência democrática.
Um defensor incansável da liberdade e da dignidade humana, cuja história se entrelaça de forma indelével com a própria alma de Cajazeiras. Sua voz ainda ecoa pelos prados e campinas, pelos becos e periferias: “meus irmãos e minhas irmãzinhas também!”
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