Esquecida

Por José Ronildo – Há pouco mais de uma década, o Brasil conheceu uma proposta ambiciosa que reacendeu a esperança de desenvolvimento para uma das regiões mais castigadas pelas desigualdades históricas: a Zona Franca do Semiárido. Inspirada na experiência da Zona Franca de Manaus, a ideia era criar incentivos fiscais e logísticos para atrair indústrias e fomentar a economia em áreas do Nordeste profundamente afetadas pela seca e pela pobreza estrutural. Mas onde está esse projeto agora? O que aconteceu com esse sonho?
A resposta mais direta — e dolorosa — é que o projeto morreu. Morreu silenciosamente, soterrado pela burocracia, pela desatenção da grande política nacional e pelo desinteresse de quem deveria lutar com unhas e dentes pela sua implantação. Morreu sem velório, sem discursos, sem sequer uma nota de rodapé no noticiário. O que era para ser uma revolução econômica virou apenas mais um capítulo da longa coleção de promessas não cumpridas no Nordeste brasileiro.
O projeto, que teve como um de seus maiores defensores o então deputado paraibano Wilson Santiago, chegou a avançar no Congresso Nacional. Em 2017, foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Falava-se em transformar Cajazeiras (PB), Picos (PI), Juazeiro do Norte (CE), Serra Talhada (PE) e outras cidades do sertão em polos de atração para empresas com incentivos fiscais, infraestrutura diferenciada e capacidade de gerar milhares de empregos. Mas, a partir daí o projeto estagnou. O entusiasmo inicial deu lugar ao silêncio — um silêncio ensurdecedor.
Por que não se fala mais nisso? Onde estão os líderes que empunhavam a bandeira do desenvolvimento do Semiárido? Se deram por vencidos? Foram vencidos por quê? Pela lentidão do Congresso? Pelo lobby de outras regiões? Ou pela falta de interesse real em desenvolver o sertão, que sempre serviu melhor como palanque eleitoral do que como prioridade econômica?
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A verdade é que faltou pressão política, articulação nacional e, principalmente, vontade dos próprios representantes da região. A bancada nordestina, que poderia ter unido forças em torno do projeto, mostrou-se fragmentada, mais interessada em disputas partidárias do que em pautas estruturantes. Os políticos paraibanos que, num primeiro momento, defenderam a Zona Franca do Semiárido, parecem ter recuado ou redirecionado suas agendas para questões de menor impacto.
Há, ainda, um fator incômodo que precisa ser dito: a criação de uma Zona Franca no Semiárido não interessa a todos. Grandes centros econômicos e industriais do país olham com desconfiança para qualquer proposta que descentralize a produção e os investimentos. Há um jogo de forças invisível que boicota projetos que ameaçam o status quo do eixo Sul-Sudeste.
É preciso retomar o debate sobre a Zona Franca do Semiárido. Não como discurso eleitoral, mas como política de Estado. O Nordeste não pode continuar sendo lembrado apenas em tempos de seca ou de eleição. A pauta precisa voltar à agenda nacional, com seriedade, estratégia e coragem política. Porque, no final das contas, não foi o projeto que fracassou — foram os políticos que o abandonaram. E lembre-se: o presidente da Câmara dos Deputados, deputado Hugo Motta (Republicanos), é paraibano. Wilson Santigo, que impusera a bandeira desse projeto, por coincidência, é do mesmo partido. A pergunta que fica é: os líderes nordestinos, paraibanos inclusive, desistiram da Zona Franca do Semiárido, sem mesmo dizer o porquê? Dida Gonçalves – Radar Sertanejo.
Aumento de deputados
A Câmara dos Deputados aprovou, em regime de urgência, um projeto de lei que prevê o aumento do número de deputados federais no Brasil, gerando ampla controvérsia. O projeto foi motivado por uma ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou uma revisão na representação proporcional entre os estados, especialmente para corrigir a sub-representação de estados com grande população, como São Paulo. No entanto, ao invés de redistribuir as vagas já existentes de maneira mais equitativa, o presidente da Câmara, Hugo Motta, decidiu criar novas vagas, o que, para muitos críticos, apenas aumenta a máquina pública sem resolver os problemas de representação.
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