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Saulo Péricles

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Eu também vivi a ditadura

17/06/2025 às 09h33

Coluna de Saulo Péricles

Por Saulo Péricles Brocos Pires Ferreira – Meus caros e raros leitores. Estou a ler fazendo a economia que posso, o interessante livro de autoria de Rui Leitão sobre o período em que os militares tomaram conta do Brasil, “EU VIVI A DITADURA MILITAR”.  Na realidade, nós vivemos: ele adolescente em João Pessoa, e eu, saindo da infância no Rio de Janeiro, “o olho do furacão”, ter a sem compreensão exata do que se desenrolava à minha volta; sabia apenas pelo que se falava nas rodas familiares, e como quase toda a minha família era udenista, e por tabela Lacerdista, apesar da tendência de minha avó pessedista, que era de votar de Juscelino, e ter um adesivo no seu armário dizendo “JK 65”, indicando uma eleição que a ditadura abortou. Como sertanejos e paraibanos longe de casa, nos reuníamos constantemente no apartamento dela para jogar sueca. E saber do que estava acontecendo. Víamos as novelas e a versão da Rede Globo que era a “fonte oficial” do governo, mas e eu acompanhei muito de longe a manifestação sobre a morte do estudante Édson Luiz, que por ter sido enterrado no Cemitério do Caju, onde estavam enterrados meus ancestrais maternos, a gente visitava constantemente, e eu me lembro de pegar no cimento do túmulo onde esse infortunado estudante foi enterrado.

Também me recordo da versão “rede Globo” das passeatas, mas como eu estudava à tarde, em Copacabana, eu quando ia ao Centro, vinha logo e perdia os horários dessas, que aconteciam à tarde/noite. Nem minha mãe me deixaria ficar exposto àquela violência de parte a parte. Os policiais iam à cavalo e os manifestantes jogavam bolas de gude para fazê-los escorregarem, e a polícia usava uns cassetetes enormes (tamanho família), em que uma pancada era uma queda, com fratura. À noite, víamos a versão globo, em que crianças reclamavam do barulho dessas passeatas.

Ouvi o locutor Jorge Cury ler o texto original do AI 5, sem entender o que seria aquela aberração em que se decretava a Ditadura dentro Ditadura, sem ter a mínima consciência de que estava vendo a História ao vivo, naturalmente em preto e branco, a TV colorida somente viria anos depois.

E daí em diante vimos as suas consequências: o arbítrio completamente desnudado. Com o tempo, quando você via um policial, não sentia mais a sensação de segurança, mas o medo de ser preso, mesmo eu sendo um menino de 13 anos. Somente muito tempo depois, esse tempo de medo foi superado.

Mas voltemos para o presente. Eu, que passei ainda adolescente aqueles tempos, e acho que os mais jovens já esqueceram, fico imaginando o que passam os imigrantes nos Estados Unidos de era Trump: documentados ou não: tempos até piores, em que a qualquer momento podem ser deportados, separados de suas mulheres e filhos. Uma versão realista do filme premiado de Valter Salles. A ditadura se instalando por lá, e por muito pouco n’não se instalou aqui. Essa turma que não viveu aquele tempo, não tem consciência do que é viver numa Ditadura, num regime de exceção, no qual o simples fato de você discordar pode gerar consequências e você responder não como opositor, mas como inimigo do estado.

Eu soube, e tirei minhas lições, aprendi naquela época a ter um comportamento para não me comprometer, mas tenho minhas dúvidas de que essa nova geração possa enfrentar, com a diferença de que estamos sendo constantemente monitorados. Eu tenho certeza de que pelo menos quatro entidades sabem minha localização, assim como praticamente de todo mundo.

Espero pelo melhor, mas fico pessimista.

João Pessoa, 15 de janeiro de 2025.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Saulo Péricles

Saulo Péricles

Saulo Pericles Brocos Pires Ferreira (Pepe): Engenheiro Mecânico, especializado em engenharia de segurança do trabalho, Advogado, Perito em segurança do Trabalho e Assessoria Jurídica, membro fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras.

Contato: [email protected]

Saulo Péricles

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Saulo Pericles Brocos Pires Ferreira (Pepe): Engenheiro Mecânico, especializado em engenharia de segurança do trabalho, Advogado, Perito em segurança do Trabalho e Assessoria Jurídica, membro fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras.

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