Fé, prosa e poesia

Por Mariana Moreira – Como Catulo da Paixão Cearense e Thiago de Melo se inserem em um sermão? Ora, isso parece algo totalmente extemporâneo, ou, até mesmo, manifestação de heresia. Mas, o que ouvi na homília professada por Dom Antonio Carlos, Bispo da Diocese de Petrolina, durante uma das celebrações litúrgicas por ocasião da Festa da Padroeira da Diocese de Cajazeiras, Nossa Senhora da Piedade, foi encantador e, para mim, uma expressão de que a vivência da crença religiosa pode estar intimamente entranhada em nossas experiências cotidianas e em nossas maneiras de celebrar a vida e a existência em versos, em prosas, em notas musicais, mesmo aquelas ditas profanas.
Falando sobre como a fé é uma das expressões mais contundentes da esperança, Dom Antonio Carlos nos lembrou o poeta Thiago de Melo ao declamar que “Faz escuro, mas eu canto, porque a manhã vai chegar”. E, reforçou o religioso, é preciso enxergar como a esperança se manifesta no cotidiano de quem acredita na mudança que nos conduz a caminhos mais humanos e fraternos. Assim, adiantou o bispo, fez Maria, a Virgem da Piedade que, ao embalar o filho morto em seu colo, vislumbrou a esperança da salvação da humanidade.
E ousaria acrescentar à pregação do bispo o complemento dos versos do poeta amazonense, para dizer:
Vem ver comigo, companheiro,
a cor do mundo mudar.
Vale a pena não dormir para esperar
a cor do mundo mudar.
Já é madrugada,
vem o sol, quero alegria,
que é para esquecer o que eu sofria.
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E trazendo a poesia de Catulo da Paixão Cearense Dom Antonio Carlos lembrou que a fé e a esperança se metamorfoseiam na flor do maracujá que, para o sertanejo, traz em suas tonalidades de roxa e branca os pingos do sangue do Cristo Crucificado que tingem suas pétalas como a imprimir na história da humanidade a singeleza de um gesto de redenção e amor verdadeiro.
Pela tradição sertaneja, aos pés da cruz o pé de maracujá florido também testemunha a entrega do Filho de Deus aos seus algozes, numa expressão que, pela tradição cristã, traduz esperança, redenção, amor. Ao ser tingida pelas gotículas do sangue derramado do corpo agonizante do Cristo, a flor do maracujá lega aos homens a memória da dor convertida em esperança de novos tempos.
E aquela homília me acompanhou por outros tantos momentos de reflexão. E percebi que o Cristo celebrado na Eucaristia também pode ser encontrado nos versos do poeta, na prosa do escritor, na viola do repentista e no mendigo que, em tantos momentos, entra na Catedral da Piedade, em Cajazeiras, e se aconchega no colo da estátua da Piedade, partilhando com o Cristo Morto o abraço materno que alivia dor e sofrimento.
Faz escuro mas eu canto
porque a manhã vai chegar.
Vem ver comigo, companheiro,
a cor do mundo mudar.
Vale a pena não dormir para esperar
a cor do mundo mudar.
Já é madrugada,
vem o sol, quero alegria,
que é para esquecer o que eu sofria.
Quem sofre fica acordado
defendendo o coração.
Vamos juntos, multidão,
trabalhar pela alegria,
amanhã é um novo dia.
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