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Francisco Cartaxo

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Morte estúpida no estádio do Arruda

12/05/2014 às 09h22

“Foi uma vontade que passou pela cabeça”, disse na delegacia de polícia, pouco depois de ser preso, Everton Felipe Santiago, um dos três torcedores do Santa Cruz que sacudiram dois vasos sanitários na Torcida Jovem do Sport, na saída do estádio do Arruda, no dia 2 deste mês, após o jogo do Santa 1x1Paraná. A imagem na televisão de um objeto caindo do alto das arquibancadas do Estádio sobre torcedores rivais provoca forte indignação. De imediato, nossa revolta pede vingança. A morte dos autores, independente de processo judicial. Mas não é este o caminho. Este caminho pode resultar em linchamento como ocorreu com aquela infeliz senhora, acusada, erradamente, de matar crianças em sessões de magia negra.

Everton Felipe, único assassino preso até agora (escrevo estas linhas quinta-feira pela manhã) tem 23 anos, matou de modo cruel um desconhecido, mais tarde identificado como Paulo Ricardo Gomes da Silva, 26 anos. Integrante da torcida Inferno Coral, Everton postou mensagem no celular, via Whatsapp, avisando ter “acabado com um alemão”. Assim são chamados os torcedores rivais. Mais tarde ele compartilhou na internet fotos do corpo da vítima. 

Everton Felipe seria um monstro? 

Colegas de trabalho e amigos, ouvidos pela mídia pernambucana, mostraram-se surpresos com a estúpida ação criminosa. Sua conduta, dizem, é normal, com boa convivência social. Não exibe traços doentios, desvio patológico, tendência inata para o crime ou qualquer outra forma, admitida como atípica. É verdade que ele já fora indiciado por carregar arma sem permissão e foi flagrado participando de briga entre torcedores quando de jogo do Santa Cruz em Maceió. Mas esses fatos não respaldam conclusões definitivas acerca de deformação da personalidade do rapaz. 

Que motivação teria para a estúpida ação? 

Impossível enquadrar o brutal homicídio como algo pessoal. Talvez tenha nascido no clima de guerra predominante no seio das torcidas organizadas, no Brasil inteiro, que a cada dia enveredam pela trilha da violência e do vandalismo. Difícil indicar a raiz disso tudo que vemos diariamente na mídia. O mais razoável é buscar explicação na conduta coletiva das pessoas, que opera transformações no indivíduo ao absorver o comportamento do grupo. No caso, as torcidas organizadas de todos os times, em todos os lugares. Esse fenômeno está presente em países pobres e ricos, onde o futebol é o esporte preferido. Trata-se, portanto, de fenômeno de massa situado no âmbito da antropologia, da psicologia social ou o que seja.

Isso não justifica, no entanto, deixar impune o ato individual criminoso. Nem pensar. Impõe-se rigorosa punição com todas as qualificações previstas no Código Penal. Uma coisa é a contextualização geral de cunho sociológico. Outra, muito diferente, é a individualização do crime, cuja impunidade, se vier a acontecer, seria mais um péssimo exemplo, como, aliás, tem sucedido em outros casos de violência. Mais que isso, um estímulo para a prática de ações igualmente cruéis e antissociais. Nesta hipótese, teríamos forte incentivo à prática de atitudes criminosas semelhantes, a partir da “vontade que passa pela cabeça” de torcedores organizados.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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