header top bar

Mariana Moreira

section content

O mundo dos bichos

15/11/2025 às 16h45

Coluna de Mariana Moreira - foto ilustrativa - © Rovena Rosa/Agência Brasil

Por Mariana Moreira – Eles se espalham por calçadas, praças, batentes de portas, sombras de árvores. As vezes em bandos. Em outros momentos, sozinhos. E, pelas ruas de Cajazeiras, cotidianamente, nos encontramos com cães e gatos perambulando, a ermo, na cata de sacolas de lixo onde, por alguma sorte, encontrem restos de alimentos que sacie sua permanente fome.

A população canina de rua é em maior quantidade e, a qualquer sinal de ameaça, ensaiam reação com latidos e perseguição a carros e motos. Motivo que, frequentemente, é utilizado como argumento para soluções radicais, como o extermínio dos animais de rua.

Mas, de forma sensata, seria essa a solução mais ética e mais saudável, da perspectiva da convivência e da equidade da vida no planeta?

Afinal, cães e gatos são espécies que, como os humanos, habitam este planeta por trilhões de anos. E mais: fomos nós, humanos, que os convertemos em animais de estimação, os retirando de seu habitat natural e lhes impondo regras e modos de vida destoantes de sua natureza animal. Assim, desprovidos de sua inata trajetória de vida são lançados em mundos e modos de viver que, muitas vezes, lhes condena ao abandono, a fome, ao desprezo. A reação, portanto, é um comportamento agressivo como a denunciar que o tratamento humano a eles dispensado torna-se mais ofensa que afeto.

E, o que fazer com tantos gatos e cães que vagueiam por nossas ruas e praças?

Não basta apenas campanhas e ações de castração. São necessárias, e urgentes, políticas públicas mais efetivas que transcendam a simples castração. Essa é importante, mas não suficiente.

E porque não transformar o cuidado com os animais domésticos em conteúdo da grade curricular de escolas, desde os anos iniciais. Sobretudo, quando consideramos que, na atualidade, a concentração da população em áreas urbanas é significativamente superior a população do campo. Trabalhar em escolas, como conteúdo didático, obrigatório, a relação homem, natureza e a relação homem animais domésticos pode traduzir um significativo passo no sentido de minimizar os impactos que, hoje, os animais de rua representam.

Mas somente a educação escolar não basta. Carece-se de outras políticas públicas, como campanhas de conscientização da população em geral, sobretudo, estabelecendo regras e sanções para a prática do abandono e dos maus tratos. Afinal, cães e gatos de rua não escolheram esse como seu habitat natural. Fomos nós, humanos, em nossa irracionalidade, que os arremessamos para este mundo hostil.

E, que sabe assim, teremos um novo mundo, como nos ensina o poeta:

O mundo só vai prestar
Para nele se viver
No dia em que a gente ver
Um gato maltês casar
Com uma alegre andorinha
Saindo os dois a voar
O noivo e sua noivinha
Dom Gato e Dona Andorinha.
(Jorge Amado: O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá)


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Mariana Moreira

Mariana Moreira

Professora Universitária e Jornalista

Contato: [email protected]

Mariana Moreira

Mariana Moreira

Professora Universitária e Jornalista

Contato: [email protected]

Recomendado pelo Google: