O rei está nu

Por Alexandre Costa – Aos meus doze anos de idade, ao bisbilhotar as inúmeras coleções de livros da vasta biblioteca do meu pai, Tota Assis, deparei-me com uma que me fascinou de tal forma que me fez apaixonar de vez pela leitura. Falo da enciclopédia “Tesouro da Juventude”, uma obra inglesa editada no Brasil na primeira metade do século passado, que me atraía pelos temas abordados, divididos em várias seções: ciências naturais, biologia, biodiversidade, artes, geografia, botânica, literatura, ciência e tecnologia, além de história e literatura infantil.
Uma consulta ao Tesouro da Juventude na época era algo parecido com hoje “dar um Google” pela certeza de encontrar a informação buscada. Uma maravilha!
Mas foi nestes tempos bicudos que o país atravessa, de uma relação conturbada entre os três poderes da República, que me veio à mente a mensagem da antológica fábula, “A Roupa Nova do Rei”, do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen” inserida no Livro dos Contos desta enciclopédia, que casa precisamente com a nossa realidade atual.
No seu conto literário, Andersen relata um ardiloso golpe de 02 alfaiates trambiqueiros que prometem a um vaidoso rei, roupas mágicas que só pessoas inteligentes conseguem ver. Embevecidos, o rei, toda a corte e o povo fingem que veem a roupa inexistente, mas na apresentação da “nova e revolucionária vestimenta” para os súditos em um longo cortejo pela cidade, de repente, uma criança nos braços dos pais grita: o rei está nu!
O instigante texto de Andersen, que ainda hoje permanece atual, é um choque de realidade para aqueles que acreditam na sustentação de sistemas de poder baseados no engodo, na mentira disseminada por falsas narrativas oficiais. Não se falseia a verdade. Ela tem o poder de desmascarar governos, escancarando sua nudez à luz da História.
No Brasil, o exacerbado ativismo judicial, arrastado pela polarização ideológica, resolveu tomar partido com uma suposta e tendenciosa alegação de salvar e preservar a democracia brasileira, enveredando numa perigosa escalada de abuso de poder, desrespeitando princípios constitucionais do estado democrático de direito. Aberrações jurídicas como os inquéritos das fake news e das milícias digitais escandalizaram o mundo, consolidando o Brasil como uma autocracia togada.
Desta vez, o grito não veio da criança da fábula de Andersen, e sim do jornal norte-americano Wall Street Journal (WSJ), uma das maiores e mais sérias publicações do mundo, quando estampou, neste domingo (10), um artigo da colunista Mary Anastasia intitulado “Um Golpe de Estado na Suprema Corte do Brasil”, que disseca como nascem as novas ditaduras do século XXI que não tomam o poder por golpe militar, “copiam Hugo Chávez, consolidando o controle sobre instituições democráticas enquanto estão populares, para depois prender adversários ou forçá-los ao exílio”.
Criamos um monstro, as graves arbitrariedades cometidas por um “Supremo político” que hoje, por convicção ideológica, são ignoradas e toleradas, amanhã vão cobrar um preço muito alto daqueles que não queriam enxergar que o rei estava nu.
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